Queimadas na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de gás carbônico


Número considera o período de junho a agosto de 2024 e é equivalente às emissões de todo o Reino Unido em um único mês. Dados foram obtidos com exclusividade pelo Jornal Hoje junto com o Observatório do Clima.

Uma visão de drone mostra a devastação do incêndio florestal em meio à fumaça na Amazônia, em Lábrea (AM) (6 de setembro) — Foto: Bruno Kelly/Reuters

As queimadas recordes na Amazônia resultaram em 31 milhões de toneladas de gás carbônico (CO2) emitidos na atmosfera, segundo dados inéditos, obtidos com exclusividade pelo Jornal Hoje junto com o Observatório do Clima (OC), rede de entidades ambientalistas da sociedade civil brasileira.

O número considera o período de junho a agosto de 2024 e é equivalente às emissões de todo o Reino Unido em um único mês. Atualmente, o Brasil emite cerca de 2,3 bilhões de toneladas de gases, sendo o sexto maior emissor global.

Esse aumento significativo de gases na atmosfera tem impacto direto nas mudanças climáticas. A fumaça das queimadas, além de liberar CO2, também emite metano (CH4), monóxido de carbono (CO) e óxido nitroso (N2O).

Na Amazônia, a fumaça encobre rios que estão nos níveis mais baixos da história, como o Madeira, em Rondônia.

Enquanto isso, no Cerrado, o fogo já consumiu cerca de 9 mil hectares do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás.

Nas últimas semanas, uma densa camada de fumaça se espalhou por mais da metade do Brasil, afetando grandes cidades como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo.


Equilíbrio climático

31 milhões de toneladas de CO2 foram emitidos de junho a agosto pela Amazônia. — Foto: Jornal Hoje


As árvores da Amazônia desempenham um papel vital no equilíbrio climático, absorvendo CO2 durante a fotossíntese e liberando oxigênio.

No entanto, com as queimadas, grandes quantidades de carbono são devolvidas à atmosfera, intensificando o efeito estufa.

Esse fenômeno, embora natural, tem sido exacerbado pela ação humana, o que resulta no aquecimento global.

Como mostrou o g1, o Brasil enfrenta a maior seca já vista na sua história recente, segundo o Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden), órgão ligado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, responsável por subsidiar as ações de enfrentamento de crises climáticas.

🏜️ Os dados sobre a seca cobrem o período desde 1950. A série histórica revela que a estiagem se agravou a partir de 1988. De lá para cá, a seca mais severa havia sido registrada em 2015. No entanto, à época, a falta de chuva atingiu apenas uma parte das regiões, fazendo com que os rios secassem e a vegetação pegasse fogo.

"Quase 100% dos incêndios que surgiram nos últimos meses têm origem humana. Eles não são causados por descargas elétricas ou raios", diz o climatologista Carlos Nobre.

"Se o aquecimento global ultrapassar 2°C e o desmatamento alcançar entre 20% e 25%, estaremos muito próximos de um ponto de não retorno. Se continuarmos nessa trajetória, até 2050 já teremos ultrapassado esse limite", acrescenta o especialista.

Em agosto, a temperatura média global perto da superfície foi de 16,4°C, acima da média habitual de 15,6°C. Os oceanos apresentaram uma temperatura média de 20,9°C, também acima da média. Essas condições afetam diretamente o regime de chuvas, resultando em temporais extremos e secas cada vez mais prolongadas e intensas.

Agosto também marcou o décimo terceiro mês, em um período de 14 meses, em que a temperatura média global superou 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.

Desde junho de 2023, temos registrado quase que um mês mais quente na sequência do outro, dado que cientistas e autoridades destacam para apontar que vivemos uma emergência climática. Somente julho de 2024 não superou esse recorde.


Mais CO2 na atmosfera

Pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) têm coletado amostras de ar na Amazônia para analisar os gases liberados pelas queimadas.

As análises laboratoriais em São José dos Campos, na sede do Inpe, mostram que, em alguns locais, a Amazônia, em vez de sequestrar carbono, tem liberado mais CO2 do que absorve, especialmente em áreas afetadas pelos incêndios.

A Amazônia absorve mais carbono ou emite mais? Para responder a isso, coletamos dados em quatro locais, duas vezes por mês, desde 2010. Abrangemos um grande quadrante que cobre 100% da Amazônia brasileira, equivalente a 4,2 milhões de quilômetros quadrados, além de parte da Amazônia em outros países. Com o uso de aviões, conseguimos obter uma representatividade regional adequada.

— Luciana Gatti, coordenadora do Laboratório de Gases de Efeito Estufa (LaGEE) do Inpe.

O Brasil tem a meta de reduzir suas emissões de gases de efeito estufa em 48% até o próximo ano, mas ainda é incerto se conseguirá atingir esse objetivo (entenda mais abaixo). Uma das alternativas para mitigar os efeitos das emissões é o reflorestamento.

"As emissões brasileiras começaram a crescer, especialmente entre 2018 e 2020. O aumento se destaca no setor de combustíveis fósseis e no desmatamento, que têm impulsionado o crescimento das emissões de gases de efeito estufa. A tendência é preocupante, pois reflete uma falta de progresso na redução das emissões e coloca em risco o cumprimento das metas climáticas do país", explica Osvaldo Moraes, diretor do Departamento de Clima e Sustentabilidade do Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI).

No Pará, o pecuarista Sadir Schimid tomou a iniciativa de reflorestar parte de sua fazenda, plantando 400 mil mudas de espécies nativas da Amazônia.

Atualmente, 40% de sua propriedade já foi reflorestada. Além dos benefícios ambientais, a prática gera lucro por meio da venda de créditos de carbono, comprados por grandes empresas multinacionais como forma de compensar suas emissões.

Funciona assim: uma empresa ou país que remove mais carbono do que emite fica com saldo positivo no mercado de carbono e pode vender créditos para aqueles que poluem mais.

São soluções que beneficiam o meio ambiente e representam ações urgentes para um planeta em perigo.

Fonte: G1





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