Nos primeiros sete dias do mês de setembro, 91 incêndios foram registrados, número maior do que a média história do mês. Autoridades avaliam estratégias para minimizar impactos para a população.
Entre janeiro e agosto de 2024, o Espírito Santo registrou 2.331 ocorrências de incêndios em áreas de vegetação, segundo o Corpo de Bombeiros. Entre os locais destruídos pelo fogo, estão florestas, pontos turísticos, produções agrícolas e também áreas de pastagens. A previsão é que a situação se agrave ainda mais nos próximos 15 dias.
"As estimativas não são boas em relação às chuvas, o que resolveria o problema. A estimativa do Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) indica um período sem precipitação de chuva para a Região Sul; e, no máximo, cerca 10 mm para o Norte, que é quase nada", explicou o secretário de Agricultura do Espírito Santo, Enio Bergoli.
A Secretaria da Agricultura do estado informou também que a coordenação de Meteorologia do Incaper apresentou que a previsão para os próximos 15 dias é de clima seco e temperaturas elevadas, com pouca chuva, principalmente na Região Norte (10 milímetros) e quase nenhuma na Região Sul. Essa condição, aliada à alta evaporação do solo e transpiração das plantas, pode aumentar significativamente o risco de queimadas.
Incêndio no Parque Mata das Flores, em Castelo, no Sul do Espírito Santo — Foto: Mário Louzada
Ainda segundo o secretário de Agricultura, outro dado que mostra o tamanho da destruição no estado é número de queimadas em áreas com mais de 1 hectare, ou seja, 10 mil m².
"Foram 378 ocorrências nessas áreas, o equivalente a 2,5 mil hectares destruídos em todo o Espírito Santo. A grande maioria das áreas são pastagens e matas, o que gera um prejuízo ambiental ainda incalculável. Em um primeiro momento, não prejudica a produção rural com exceção da da pecuária bovina. As demais foram pouco afetadas", explicou Ênio.
No dia 7 de setembro, o Espirito Santo decretou estado de emergência em relação ao aumento de incêndios que acontecem em todo território capixaba. A publicação foi no mesmo dia em que estado ultrapassou a média histórica de queimadas em setembro, com 91 registros nos primeiros sete dias do mês.
Na próxima segunda-feira (16), a pasta deve se reunir com outras autarquias, como o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) e a Agência Estadual de Recursos Hídricos (Agerh), além de representantes do setor agropecuário e da indústria, a fim de adotar medidas para a restrição do uso de água no estado.
''A situação neste ano é a mais grave e existe uma hierarquia: primeiro, a água deve ser para o consumo humano; ou seja, vamos precisar poupar na agricultura e indústria para priorizar o consumo humano. Vamos estruturar estratégias para economizar mais água para que a gente consiga atravessar as próximas duas, três até quatro semanas", acrescentou.
O balanço hídrico negativo, ou seja, a perda de água maior que o ganho por chuva, torna o ambiente mais seco e propício às queimadas em todo o Espírito Santo.
Dados preocupam
Segundo informações do Corpo de Bombeiros, foram registradas 2.331 ocorrências de incêndio no estado em oito meses, sendo 688 casos apenas em julho e 550 em agosto, período em que o período de estiagem é mais intensificado. Não foram informados números de casos na primeira semana de setembro.
Segundo o Instituto de Defesa Agropecuária e Florestal do Espírito Santo (Idaf), o mapa de concentração de queimadas mostra maior concentração de incêndios nos municípios de Colatina, Ibatiba, Iúna e Cachoeiro. Essa situação, combinada com a previsão de clima seco e quente, pode colocar em risco as áreas de vegetação e as atividades agrícolas dessas regiões.
Ocorrências de fogo em vegetação no ES*
Fonte: CBES (*Dados referente a janeiro e final de agosto de 2024)
Além do dano causado em áreas de preservação, a fumaça causada pelo incêndio já foi responsável pela interdição total em trechos de rodovias federais devido ao risco de acidente causado pela baixa visibilidade.
Incêndio atinge entorno do Parque Estadual da Pedra Azul no Espírito Santo — Foto: Matheus Passos/TV Gazeta
Pontos turísticos atingidos
Entre áreas atingidas por incêndios este ano, estão locais turísticos, como a Rota do Lagarto, em Pedra Azul, Domingos Martins, na Região Serrana do Espírito Santo. No dia 14 de julho, chamas deixaram rastros de destruição na região. O local é próximo ao Parque Estadual Pedra Azul (Pepaz).
Nesta sexta-feira (13), o Iema informou que um novo incêndio atingiu vegetação das proximidades do parque. Corpo de Bombeiros foi acionado para atender a ocorrência. A unidade de preservação foi temporariamente fechada para visitação até a próxima terça-feira (17).
O Parque Estadual Mata das Flores, em Castelo, no Sul do estado, que abriga uma rica biodiversidade com espécies ameaçadas, novas e endêmicas, também foi afetado. Em um período de sete dias, dois incêndios foram registrados, culminando em uma destruição 140 hectares.
Já em Pancas, no Noroeste do estado, o morro onde fica o maior circuito de tirolesas da América Latina, também se tornou cenário de devastação devido ao fogo. Um incêndio que iniciou no dia 31 de agosto só foi controlado no dia 8 de setembro e destruiu mais de 240 mil hectares.
Na tarde desta sexta-feira (13), uma nova queimada foi registrada no local e o impacto ainda não pode ser mensurado (assista abaixo).
Outra local atingido pelo fogo foi a área de vegetação no entorno do monumento Frade e a Freira, em Itapemirim, Sul do Espírito Santo, que mudou a paisagem do cartão postal na manhã desta sexta-feira (13). Segundo o Corpo de Bombeiros, militares estavam no local para apagar as chamas (assista aos vídeos no final da reportagem).
Incêndio atinge mata na Pedra do Frade e a Freira, no Sul do Espírito Santo — Foto: Reprodução
Em Guarapari, no litoral do Espírito Santo, um incêndio também atingiu a Área de Proteção Ambiental (APA) de Setiba. O fogo começou na terça-feira (10) e não foi controlado até a publicação desta reportagem. De acordo com o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema), o fogo está nas proximidades do Parque Estadual Paulo César Vinha, que fica no mesmo município.
Por causa das chamas, o parque foi temporariamente fechado para visitação até a próxima segunda-feira (16). A decisão foi comunicada na manhã desta quinta-feira (12).
Em Santa Teresa, na Região Serrana, um incêndio atingiu a vegetação perto do Museu Mello Leitão, na tarde desta terça-feira (10). De acordo com o Corpo de Bombeiros, o incêndio foi controlado no mesmo dia.
Fonte: g1 ES