Cláudio Boa Fruta é eleito prefeito de Boa Esperança

O empresário derrotou nas eleições deste domingo, dia 6, o grupo da atual prefeita, Fernanda Milanese, que deixará o cargo em 31 de dezembro deste ano.

Cláudio Boa Fruta e Parrudo eleitos, prefeito e vice-prefeito em Boa Esperança. Crédito: Assessoria de imprensa

Confirmando o favoritismo apontado pelas pesquisas divulgadas pela Rede Notícia, o empresário Cláudio Boa Fruta está matematicamente eleito prefeito de Boa Esperança, conforme dados do Tribunal Superior Eleitoral. O empresário derrotou nas eleições deste domingo, dia 6, o grupo da atual prefeita, Fernanda Milanese, que deixará o cargo em 31 de dezembro deste ano. Os dados ainda estão sendo fechados, mas já há confirmação da eleição do agora prefeito eleito Cláudio Boa Fruta.

Renovação após décadas de um mesmo grupo no poderA eleição de Cláudio Boa Fruta marca o fim do mesmo grupo no poder em Boa Esperança há mais de uma década. 

Depois da “Era Amaro Covre”, prefeito por cinco mandatos, a cidade de Boa Esperança, no Noroeste do Espírito Santo, teve o mesmo grupo consolidado no poder, liderado por um nome da família Milanese: Romualdo. Em 2008, o então “índio” da política (que mais tarde viria a se tornar cacique), costurou um acordo com lideranças locais, e lançou a sua candidatura única. À época, Romualdo Milanese foi eleito prefeito pela primeira vez. Na época, filiado ao PMDB, bastaria o voto dele para ser eleito. Nunca foi tão fácil vencer uma eleição.

Em 2012, ainda filiado ao PMDB, o então prefeito se veria diante de um tabuleiro político não mais igual ao encontrado em 2008. Enfrentou dois adversários naquele pleito: Charles Faria (que foi secretário de Assistência Social da atual prefeita e mulher de Romualdo – Fernanda) filiado à época no PPS, e a advogada Marineide Monti, filiada ao PSDC. Romualdo viria a ser reeleito prefeito de Boa Esperança, com 81,49% dos votos válidos, totalizando 7.526 votos, ante 1.112 votos de Charles e 598 de Marineide. O político declarou à Justiça Eleitoral na ocasião, um patrimônio de R$ 337.000,00. Naquela ocasião, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Romualdo investiu R$ 183.190,00 na campanha. 

Nas duas vezes em que governou Boa Esperança, Romualdo teve um único vice: Valdir Turini. Empresário, dono de umas mais importantes farmácias da cidade, proprietário da única lotérica e de uma loja de material de construção. O segundo mandato de Romualdo viria a ser marcado por denúncias do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), de supostas irregularidades na administração. Em 2015, quando ele ainda era prefeito, foi condenado a pagar R$ 25 mil de transação de créditos fiscais. Na denúncia inicial, o Ministério Público Estadual (MPES) narrou que o dinheiro foi depositado diretamente na conta pessoal de Romualdo Milanese com o objetivo de financiar a campanha de seu pai (Antônio) a vereador no município no ano de 2000. 

Durante a instrução do processo, a defesa dos réus sustentou que o recebimento da verba se deu em razão de um empréstimo contraído por Aguinaldo Chaves de Oliveira, que era candidato a prefeito naquela época. No entanto, a tese foi rechaçada pelo juiz Thiago Vargas Cardoso, da 2ª Vara da Fazenda Pública Estadual. O juiz também deu um puxão de orelha ao então prefeito: “Exige-se do homem médio e, muito mais daquele que almeja o exercício de cargo público, um mínimo de cautela para praticar os atos da vida pública. Cuidado este de que não se cercou o demandado ao aceitar sem qualquer ressalva quantias de origem espúria. Lembre-se que, no caso dos autos e reconhecido pelo réu, o agente recebeu quantia de conta particular de pessoa ligada ao chefe do Poder Executivo Estadual, ou seja, de forma não declarada, feito às escusas”, pontuou. 

Em 2016, Romualdo não poderia ser mais candidato. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem assentado o entendimento de que chefes do Poder Executivo (municipal, estadual e federal), não podem ser eleitos por três mandatos consecutivos. Surgiu da cartola, então, o nome do então vereador Lauro Vieira, filiado ao PSDB na época. Amigo pessoal, padrinho de uma das filhas de Romualdo. Lauro era o “homem forte” de Romualdo. Os cidadãos de Boa Esperança se viram diante de dois candidatos postos à mesa: Lauro Vieira, do PSDB (então aliado de Romualdo), e Charles Faria, que seguia filiado ao PPS. O vice de Lauro foi Valdirim (filiado ao então PMDB de Romualdo), que tinha vasta experiência como vereador. Resultado: Lauro Vieira foi eleito prefeito de Boa Esperança com 62,28% dos votos válidos, totalizando 5.164 votos, ante 3.128 votos do então adversário, Charles. Note que o capital político de Lauro, apadrinhado por Romualdo, começa a derreter, enquanto o capital político de Charles, mais que dobra em relação ao pleito de quatro anos anteriores. Na eleição de 2016, Lauro investiu R$114.575,10, conforme dados do TSE.

 No meio do governo, Lauro rompe com Romualdo. O motivo, apurado nos bastidores, seria que Lauro não teria aceitado intervenções de Romualdo no governo, verbalizando ao padrinho político, que ele (Lauro Vieira) era o prefeito da cidade. O racha ficou evidenciado publicamente, com insultos entre ambos e entre a militância dos dois políticos nas redes sociais. Os amigos viraram inimigos políticos. 

Em 2020, no meio da pandemia de Covid-19, os eleitores de Boa Esperança teriam um novo encontro com as urnas. Apesar da gestão feita com equilíbrio fiscal, e da boa condução da máquina pública, Lauro desistiu de tentar se reeleger. Disse publicamente que sairia da vida pública. O grupo de Romualdo, do qual Lauro integrava e rompeu, viu a oportunidade de retomar o poder. Para isso, fez um jogada de mestre: levou para o grupo dele, Charles Faria. O adversário de eleições passadas, se tornaria um aliado. Com pendências na Justiça Eleitoral e alertado por aliados, Romualdo decidiu lançar sua própria candidatura na disputa de 2020, mas alterou o nome do vice das gestões anteriores, escolhendo Rogério Vieira. Um empresário entrou na corrida, estabelecendo um duelo direto entre Romualdo e Cláudio Boa Fruta. Havia também um terceiro candidato, o ex-vereador Antônio José, que acabou ofuscado na disputa. Romualdo, que havia migrado do PMDB para o Solidariedade, foi eleito com 58,73% dos votos, somando 4.676, contra 3.286 de Cláudio, filiado ao DEM. Cláudio Boa Fruta gastou R$ 76.863,22 na campanha e declarou à Justiça Eleitoral R$ 1.025.000,00 em bens. 

Romualdo, por sua vez, gastou R$ 153.754,50 e declarou um patrimônio de R$ 30 mil, muito abaixo do que havia informado em 2012. Seu patrimônio teria diminuído? O Ministério Público (MP) recorreu a essa decisão, e a juíza eleitoral Heloísa Cariello, relatora do caso, decidiu que o registo da candidatura de Romualdo não poderia ser aceite. Em outubro de 2020, o Tribunal Regional Eleitoral do Espírito Santo (TRE-ES) acompanhou o parecer da relatora, resultando em uma O ano de 2021 começou. Boa Esperança estava sem prefeito. Os vereadores tomaram posse e elegeram seu presidente: Renato Barros, do Solidariedade. Aliado de primeira de hora de Romualdo. O presidente da Câmara viria a ser nomeado prefeito interino da cidade, até que a Justiça decidisse em validar a eleição de Romualdo ou determinar novas eleições para prefeito em Boa Esperança. A resposta veio em abril de 2021: o TSE, por maioria de votos, decidiu negar o recurso de Romualdo Milanese, e determinou que Boa Esperança tivesse novas eleições. Um feito inédito desde a emancipação do município. No julgamento do recurso do TSE, o então relator do processo, ministro Tarcísio Vieira, considerou que a interpretação do TRE-ES foi correta, uma vez que, em seu entendimento, um juiz de 1ª instância não poderia alterar a data certificada pelo STF. Os grupos políticos de Boa Esperança se movimentaram para o novo pleito. Enquanto isso, o vereador Renato Barros governava a cidade. Romualdo viu na esposa, o feixe de luz no túnel do poder. 

Enfermeira, Fernanda Siqueira Sussai Milanese não tinha protagonismo na vida pública. Foi primeira-dama por oito anos, mas não participava das tomadas de decisões do marido, e nem das costuras políticas que ele fazia. Romualdo queria alguém de sua confiança na disputa. Ninguém mais do que Fernanda. Apresentou o nome dela ao grupo político formado, na época, pelo Republicanos, PSL, PSB, Cidadania, Solidariedade e PT. Deixou para o grupo decidir sob o escrutínio dele, quem seria o vice da esposa. Surgiu o nome de alguém ligado a agricultura familiar (setor forte no município) e com boa reputação: Leandro da Silva Cardoso, o Leandro da Associação. Morador de Cinco Voltas, na comunidade de Bela Vista, Zona Rural de Boa Esperança, e filiado ao PDT, Leandro foi cotado e referendado pelo grupo e pelo cacique supracitado. Em 1º de agosto de 2021, Fernanda Milanese foi eleita prefeita de Boa Esperança com 50,14% dos votos válidos, somando 3.841 votos, contra seu único adversário, Cláudio Boa Fruta, que obteve 3.257 votos. A diferença entre os dois foi de 584 votos. Apesar de menor do que em disputas anteriores, o capital político do grupo de Romualdo ainda foi suficiente para manter o poder, do qual (sobre)vivem há mais de uma década. Fernanda assumiu a prefeitura em 1º de setembro. Enfermeira de formação, ela se tornou política, aprendendo a discursar e a construir alianças, permanecendo no comando do município. Seu marido, Romualdo, foi nomeado secretário de Agricultura pela própria esposa, o que exigiu a remoção do aliado Charles Faria, que foi transferido para a Secretaria de Assistência Social, anteriormente ocupada por Inez Milanese, irmã de Romualdo e cunhada de Fernanda. No início de 2024, Charles deixou o governo e o grupo político que ajudou a eleger. O Partido dos Trabalhadores (PT), que compôs o grupo político de Romualdo em várias eleições, começou a gestão de Fernanda com duas secretarias: Educação, com Roberto Telau, e Planejamento, com Joseane Ribeiro de Oliveira. Atualmente, apenas Roberto permanece no governo. Aliado ao Sindicato dos Servidores Públicos de Boa Esperança, ele se mantém em uma posição favorável ao jogo político de Fernanda e Romualdo, enquanto o PT tem pouca influência em sua gestão à frente da Educação. 

Roberto, aliás, é descrito como quase um “turista” no partido, mantendo apenas a filiação. Com a saída de Charles Faria em 2024, Fernanda convidou Joseane Ribeiro (PT) para reassumir a Secretaria de Assistência Social, convite que ela aceitou. No entanto, o presidente do PT no município, professor Everaldo, afirmou à Rede Notícia que a nomeação de Joseane não teve aval ou aprovação formal do partido, sendo uma negociação direta entre a prefeita e a nova secretária. O PT chegou a anunciar que teria um candidato próprio nas eleições, o que não se concretizou, e o partido acabou apoiando a campanha de Fernanda, colhendo a derrota no pleito de 6 de outubro.


Fonte: Rede Noticias 


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