Mudras: o que são os gestos com as mãos que trazem bem-estar e ajudam a tratar doenças como pressão alta e ansiedade


A prática ancestral tem mais de cinco mil anos de existência e é usada por professores de ioga no Brasil

A professora de ioga Maria Araujo, no Aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro — Foto: Ana Branco

Quando a professora de ioga Maria Araújo gravou no quintal de seu apartamento no Rio um vídeo sobre os chamados mudras, gestos que se fazem com as mãos durante uma meditação ou em qualquer lugar ou momento do dia, para seus alunos, jamais imaginou que despertaria a curiosidade de mais de 2 milhões de pessoas que visualizaram o material em suas redes sociais. Para surpresa de Maria, que já sofreu síndrome do pânico e encontrou um caminho de cura através do ioga, sua conta na rede Instagram recebeu mensagens até mesmo de pessoas no exterior interessadas em saber mais sobre mudras e, também, em compartilhar suas próprias experiências com a prática.

Em poucos dias, a professora de ioga ganhou mais de 55 mil novos seguidores no Instagram, e decidiu publicar um e-book sobre o assunto, já vendido a seguidores de dentro e fora do Brasil.

— Minha experiência com os mudras é muito positiva, tenho inúmeros relatos de alunos que praticam durante a meditação, ou em qualquer momento, e conseguem bons resultados — comenta Maria, que costuma usar mudras em suas aulas de ioga.

No e-book que publicou recentemente, a professora explica que "mudras são gestos que nos permitem sintonizar com frequências específicas de energia do Universo. Segundo Yoga e Ayurveda, a saúde plena é o resultado dessa sintonia em que o ser individual, o microcosmo, sincroniza-se com o Universo, o macrocosmo. Essa sincronia é a base do equilíbrio e da cura. Assim, os Mudras são ferramentas poderosas para otimizar a saúde”.

É possível melhorar casos de insônia, ansiedade, depressão, pressão alta, dor de cabeça ou até mesmo zumbidos estranhos no ouvido apenas fazendo gestos com as mãos? Segundo explicam Maria e os também professores de ioga Lilian Aboim e Vanderley Wessler, não apenas é possível, mas é altamente recomendável. Lilian é autora do livro “Mudras para a cura e transformação”, lançado em 2015 nos Estados Unidos e no ano passado no Brasil.


Mudras: gestos com as mãos trazem bem-estar e ajudam a tratar patologias como pressão alta e ansiedade



Esses movimentos têm sido utilizados na tradição do yoga e na medicina ayurvédica como ferramentas poderosas para canalizar a energia do corpo e atuar em diferentes sistemas do organismo

— Os mudras têm efeitos na circulação de energia no nosso corpo, da energia que nutre o equilíbrio de nossos órgãos. Eles atuam no nível emocional e mental — afirma Lilian, que em seu livro fala sobre mais de 100 mudras.

Cada gesto com as mãos, acrescenta a professora, “evoca qualidades que elevam nosso estado de ânimo, nosso espírito. A alegria é inerente em nós, mas nos desconectamos dela pela vida corrida”.

— O estresse crônico interfere nos nossos sistemas, nas nossas emoções e na qualidade de nossos pensamentos — frisa a professora.

Ela tem uma maneira muito especial de se referir aos mudras: “é como um botão de flor que desabrocha de forma particular em casa pessoa”.

Os diversos gestos com as mãos que servem para tratar diferentes tipos de problemas podem ser feitos durante uma aula de ioga, uma meditação, ou simplesmente caminhando na rua, andando de ônibus, metrô ou, basicamente, em qualquer lugar. A questão não é fazer o gesto e sim, afirma Wessler, “estar no momento presente, se observando e se reconhecendo”.

— É uma ferramenta que livra as pessoas das torturas da vida. Os mudras trazem paz de espirito, mas é preciso entender que essa paz não está do lado de fora, está sempre dentro de nós — diz o professor, que busca em seus alunos “uma mudança de atitude, que as pessoas se relacionem mais com elas mesmas”.

Os mudras ajudam a criar um fluxo de energia que desbloqueia áreas do corpo e, assim, acrescenta Wessler, estados de ansiedade, pânico, medo e raiva, entre outros, são aliviados.

Além de um estado de consciência plena, a prática dos mudras exige consciência, destaca Maria. O ideal, afirma a professora, é de cinco a 15 minutos diários. Alguns de seus alunos já mediram suas pressões arteriais antes e depois de uma meditação usando o mudra específico para pressão alta e o resultado, conta a professora de ioga, “é impressionante”.

— Os mudras que chamo de campeões, porque são sobre os que mais recebo consultas, são os do coração e ansiedade. Não tem comprovação científica, mas é como o ioga, existe há mais de cinco mil anos — aponta Maria, que superou ataques de pânico com ioga, mudras e meditação.

— No começo, eu fazia muito no metrô porque tinha pânico. Muitas vezes descia numa estação para respirar, porque passava muito mal. Com a respiração e os mudras eu ia me acalmando — conta a professora, que acaba de retornar de uma viagem pela Índia, onde os mudras, comentou, estão por todos os lados. — Vi mudras até mesmo em propagandas de carros — brincou.

Em seu e-book, Maria explica que emoções estão associadas a cada um dos dedos: “o polegar regula as preocupações; o indicador diminui o medo; o dedo médio faz a raiva esmorecer; o anelar consola a tristeza; e o dedo mínimo faz diminuir o excesso de preocupação”.

Os mudras também estão relacionados aos cinco elementos que, segundo a medicina ancestral indiana, a Ayurveda, estão presentes na natureza e no corpo humano: fogo, ar, éter, terra e água. “As mãos constituem um espelho do corpo e da mente. A combinação dos dedos em cada mudra cria uma combinação energética única entre esses elementos. Dessa forma, cada dedo representa um elemento. O dedo mínimo representa a água, o anular à terra, o dedo médio o espaço, o indicador o ar e o polegar o fogo. As combinações dos dedos, assim como a posição deles (esticado, flexionado, etc.), permitem uma grande variedade de opções de conexão com as energias primordiais do Universo”, explica o texto publicado por Maria.

A lista de mudras é enorme, e inclui, entre muitos outros, o “prana mudra”, que "facilita a expansão dos pulmões melhorando a capacidade respiratória. Aumenta a vitalidade, reduz a fadiga e o nervosismo. Também é indicado para problemas de visão”. Para fazê-lo basta juntar as pontas do polegar, do anular e do mínimo, de cada mão. Os outros dedos permanecem esticados e um pouco separados.

O “padma mudra”, também chamado de mudra da flor de lótus, "abre o coração sútil, liberando espaço no peito, diminui a carga de tensão sobre o coração físico e cria expansão da caixa torácica. Indicado para problemas cardíacos". Ele se faz juntando os punhos, polegares e dedos mínimos e abrindo os outros dedos.

Para a insônia, é recomendado o “shakti mudra”, que "tem um efeito calmante e ajuda as pessoas a adormecer facilmente. Ele pode ser feito deitado na cama antes de dormir”. Deve ser praticado durante, no mínimo, dez minutos. Em seu e-book, Maria explica que este mudra se faz curvando "o polegar de cada uma das mãos na palma da mão, e, superponha-o relaxadamente com o indicador e o dedo médio. Os dedos anelar e mínimo tocam a ponta dos dedos correspondentes na outra mão”.

— Os mudras, como toda prática natural, não substituem medicamentos. Mas, usados com frequência e consciência, podem ser uma grande ajuda na busca do bem-estar — conclui a professora.


Fonte: O Globo


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