5 coisas para NÃO falar a uma criança de luto


Perder uma pessoa querida é difícil e algumas frases ditas ao longo desse processo, ainda que com boa intenção, podem mais atrapalhar do que ajudar. Especialista explica o que evitar

Consolar alguém diante de uma perda, como a morte, é mesmo muito difícil. As palavras se embolam, se misturam, parece que não sem. Quando falamos de uma criança, então, que talvez ainda nem compreenda com tanta profundidade o que aconteceu, mas está com os sentimentos bagunçados, o peso pode ser muito maior. Nesse caso, acredite: às vezes é melhor não falar nada e apenas oferecer seu carinho e o seu abraço, do que usar expressões que podem deixar o pequeno ainda mais confuso.

Frases que atrapalham na elaboração do luto, ainda que sejam ditas com boas intenções — Foto: Unsplash

Aqui, a psicóloga Nathalia Pinheiro Orti, professora na The School of Life, explica porque estas frases devem ser evitadas, ao tentar confortar uma criança em luto:


1. "Foi para um lugar melhor”

- "Foi para um lugar melhor" não é uma resposta adequada, apesar de vir, geralmente, com uma intenção e perspectiva de consolar. Na prática, comunica que a criança não pode entrar em contato com as emoções difíceis e inerentes à perda, além de supor que estar aqui não seja suficientemente bom. A clássica metáfora de “virar estrelinha” pode ser adequada com crianças bem pequenas, porque usa de uma imagem conhecida (as estrelas) para dar sustentação à experiência com a finitude. Explicações mais abstratas podem ser difíceis de assimilação para crianças menores que 7 anos, e as explicações podem ir evoluindo conforme o desenvolvimento cognitivo e emocional da criança.


2. "Não fique triste" ou "Não chore"

- Altamente inadequado porque impõe que a criança não pode sentir, o que é antinatural. Invalidar as emoções dela não fará com que não sinta, mas ensina que é errado sentir, que tristeza é um sentimento inapropriado, que chorar e expressar emoções é inadequado socialmente. Tudo isso proporciona apenas o isolamento da criança e a necessidade de “mascarar” emoções, o que pode acontecer com irritabilidade, comportamentos desafiadores, sonhos perturbadores, novos medos e desconexão com as figuras adultas de cuidado.


3. "Seja forte"

- Muito inapropriado porque equipara força à invulnerabilidade, ou seja, culpabiliza a criança por estar emocionalmente sensível e leva aos mesmos problemas descritos nos comentários sobre a frase anterior.


4. "Agora você precisa ser forte por [mamãe/papai/irmãos]"

- Não deve ser uma frase usada porque também equipara força à invulnerabilidade e culpabiliza a criança por suas emoções. Além disso, comunica que a criança tenha responsabilidade por poupar adultos e outras crianças de saberem como ela se sente e de suas necessidades emocionais. Isso é injusto e cria uma narrativa potencialmente prejudicial sobre os papeis e funções de cada um nos relacionamentos familiares. Nenhuma criança deveria aprender a se sobrecarregar emocionalmente e se isolar diante de necessidades emocionais para parecer boa ou para ser conveniente aos adultos (que estão obviamente cheios de demandas e sobrecargas, mas, como adultos, têm a responsabilidade de buscar apoio social e/ou profissional para lidar com suas próprias emoções e as das crianças pelas quais são responsáveis).


5. "Você logo vai superar"

- Não podemos abordar o luto como algo a ser resolvido e eliminado. O luto é um processo a ser vivido, com muitas etapas e aprendizados difíceis. Ele pode ser bem elaborado e vivido de forma saudável – ou não. Impor que a morte de alguém deva ser superada distorce a própria noção de luto e, mais uma vez, impulsiona o distanciamento da vida emocional e a desconexão das pessoas que poderiam ser interlocutoras nesse processo.


Fonte: Revista Crescer



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