Pessoas com o quadro geralmente são bem-sucedidas e perfeccionistas, com sintomas menos visíveis e mais difíceis de tratar
Você se orgulha de sua produtividade e está sempre de olho no cumprimento dos prazos de trabalho. Você sempre está lá com seus amigos nos eventos sociais e até mesmo mantém seus hobbies em dia. Por fora, você reflete sucesso e organização, mas, por dentro, é puro estresse e preocupação. Os especialistas chamam isso de ansiedade de alto funcionamento – quando a atividade constante mascara os sintomas de ansiedade generalizada.
Embora não seja um diagnóstico oficial do DSM-5, o manual de transtornos mentais, a ansiedade de alto funcionamento se refere a uma forma mais sutil e menos óbvia de ansiedade. Você já deve ter ouvido essa expressão usada para descrever pessoas que funcionam em alto nível apesar de apresentarem sintomas de ansiedade.
Pessoas com ansiedade de alto funcionamento podem não demonstrar, mas sentem inquietação e preocupação excessiva Foto: bnenin/Adobe Stock
As pessoas com ansiedade de alto funcionamento geralmente são bem-sucedidas e perfeccionistas, com sintomas de ansiedade generalizada menos visíveis e, portanto, mais difíceis de tratar.
“Elas muitas vezes se destacam na carreira, têm muitos amigos e relacionamentos sólidos”, diz Neha Chaudhary, psiquiatra do Massachusetts General Hospital e da Harvard Medical School e diretora médica da Modern Health. “Mas, por dentro, essas pessoas estão enfrentando sintomas comuns de ansiedade, como inquietação, fadiga, preocupação excessiva ou problemas para dormir”.
“Os mesmos traços de personalidade que levam as pessoas a ter um desempenho de alto nível geralmente alimentam os sintomas de ansiedade”, diz Michael Louwers, diretor médico associado do Reset Medical and Wellness Center. “Muitas vezes começa com boas intenções, como definição de metas e planejamento rigoroso. Mas as pessoas que sofrem desse tipo de ansiedade, em geral, estabelecem metas incrivelmente altas e irrealistas, resultando em procrastinação ou preocupação constante”.
Gerenciar a ansiedade aparentando ter mais produtividade é mais comum para mulheres e grupos minoritários, “pessoas acostumadas a ignorar sua dor e seu desconforto para estar lá para ajudar os outros”, diz Judith Joseph, psiquiatra e autora do livro High Functioning. “As mulheres geralmente se acostumam a suportar a dor física da menstruação, do pós-parto e da menopausa, e isso as coloca em risco de ter (ansiedade de alto funcionamento) porque elas sentem que precisam ficar firmes apesar do que estão passando fisiologicamente”.
Muitos dos sinais específicos da ansiedade de alto funcionamento são sinônimos de burnout, o que não é coincidência, pois as pessoas que se esforçam demais correm um risco maior de esgotamento.
Sinais sutis de ansiedade de alto funcionamento, de acordo com especialistas em saúde mental
- Trabalho em excesso e relutância em fazer pausas
- Problemas para diminuir o ritmo ou tirar dias de folga
- Sentimento de culpa ou vergonha por pequenos fracassos ou contratempos
- Resistência em delegar tarefas
- Irritabilidade
- Conversa interna negativa
- Microgerenciamento
- Problemas para dormir
Como gerenciar a ansiedade de alto funcionamento
É essencial levar a ansiedade de alto funcionamento a sério antes que ela cause outros problemas – e não achar que ter um desempenho ainda mais alto é a única maneira de acalmar os sintomas físicos e mentais da ansiedade.
“As pessoas com depressão e ansiedade de alto funcionamento apresentam os sintomas, mas, na verdade, se esforçam muito para parecerem funcionais”, diz Judith. “Se esperarmos até que essas pessoas percam a funcionalidade, pode ser tarde demais. Muitas delas caem no burnout, desenvolvem ansiedade ou depressão clínica, abusam de substâncias ou começam a sofrer de outros problemas médicos, se não são tratadas e não recebem apoio”.
Algumas pessoas podem se beneficiar de terapia, de medicamentos ou de uma combinação de ambos. Há também ferramentas cotidianas que podem ajudar.
Cinco ferramentas para gerenciar a ansiedade de alto funcionamento
- Tente ser mais tolerante com o fato de que não é todo dia que dá para resolver tudo. “Reconhecer quando a ansiedade está aumentando e fazer pausas pode ser muito útil, seja no trabalho ou até mesmo nos compromissos sociais”, diz Neha.
- Pratique diariamente a respiração profunda diafragmática: inspire por quatro segundos, segure por quatro segundos e expire por quatro segundos.
- Coma alimentos que abastecem o cérebro, como aqueles ricos em ácidos graxos ômega 3, vitamina B12, vitamina D e magnésio. Os alimentos para o cérebro não apenas reduzem a inflamação, mas também podem melhorar o humor, ajudando a manter a energia. Considere adicionar frutas vermelhas, castanhas e peixes à sua dieta.
- Reserve 30 minutos por dia só para você. Os especialistas dizem que fazer uma pausa – caminhar, ouvir música, ligar para um amigo – ajuda a acalmar o sistema nervoso e a desacelerar a espiral de pensamentos preocupantes. Trata-se de uma pausa intencional para mudar sua atenção para outra coisa.
- Aprenda a arte de delegar e dizer não. Ser um líder colaborativo e centrado no ser humano lhe dará mais tempo para cuidar de si mesmo e participar de outras coisas que tragam alegria.
Fonte: Estadão