Nova série original Globoplay conta a história da investigação que levou um ex-atacante da Seleção Brasileira à prisão por estupro. Mercedes nunca havia dado uma entrevista. Ela pediu que o rosto fosse coberto, mas permitiu que o nome e a voz dela fossem usados.
A nova série original Globoplay conta a história da investigação que levou um ex-atacante da Seleção Brasileira à prisão por estupro. O documentário "O caso Robinho" traz uma entrevista inédita com a vítima e refaz o passo a passo da investigação na Itália, onde o crime começou.
Mercedes nunca havia dado uma entrevista. Ela pediu que o rosto fosse coberto, mas permitiu que o nome e a voz dela fossem usados.
"Se eu tivesse que me descrever, diria que me sentia como... uma música brasileira: cheia de ritmo, de alegria, de luz. Sempre digo que eu costumava ser cheia de cores, que foram se desbotando. É, elas ficaram desbotadas durante muitos anos", diz.
"Eu nem tive força para reagir, para me mexer. Tanto que depois, quando me levaram para fora, tiveram que me segurar e me ajudar, porque eu não conseguia nem andar", lembra ela, no primeiro episódio.
O documentário detalha a investigação e todo o processo judicial que resultou na prisão do ex-jogador e de outro brasileiro, Ricardo Falco, condenados na Itália por estupro coletivo.
"É um caso que chamou muita atenção. E o documentário tem a possibilidade de um distanciamento temporal, por ser um crime que aconteceu há onze anos. A gente consegue explorar o papel do jornalismo e os bastidores da investigação", diz a diretora e roteirista Caroline Zilberman.
"Quando você junta nesses quatro episódios a história toda — desde a acusação, a volta ao Brasil, a cobertura da imprensa, os julgamentos — e explica toda a investigação complexa da justiça italiana, você consegue ter um retrato melhor desse caso", diz o diretor e roteirista Rafael Pirrho.
O crime ocorreu numa casa de shows de Milão em 2013. Robinho e cinco amigos foram acusados de estupro por uma mulher albanesa. O jogador foi condenado em todas as instâncias da justiça italiana, num processo que durou 8 anos e terminou em 2022.
Como a legislação brasileira não permite a extradição de cidadãos para cumprir pena em outros países, o Superior Tribunal de Justiça decretou a prisão de Robinho aqui no Brasil.
Robinho está preso em Tremembé, no Vale do Paraíba, em São Paulo, desde o fim de março deste ano. Os áudios interceptados pela polícia da Itália foram fundamentais para a condenação na Europa e também para a transferência da pena para o Brasil. Essas conversas já tinham sido divulgadas, mas agora é a primeira vez que a voz da vítima também vem a público.
"Quando eu li as escutas, chorei de alívio, sabe? Foi libertador. Depois, li outra vez. E foi então que entendi melhor o que diziam, sabe? Porque, inicialmente, a gente não percebe bem. Mas, depois de ler várias vezes... não sei... a própria maneira como eles falam, diminuindo o que aconteceu, achando que vão sair ilesos, se safar, que não vai acontecer nada. Acho que, se não fosse pelas escutas, nunca teriam descoberto o que aconteceu. Foi meio que minha sorte e minha salvação", diz Mercedes.
A conversa com a equipe durou uma hora e quarenta e quatro minutos.
'Ela autorizou a gente a usar o nome dela, ela nos recebeu na Albânia. Ouvi-la foi muito importante porque, afinal de contas, é a denúncia dela que dá início à investigação', diz Rafael. "A gente encontrou uma mulher que sofreu muito e que passou dez anos enfrentando tribunais e delegacias e que encontrou um apoio raro do sistema judiciário para esse tipo de crime", conta Caroline.
A produção também reúne entrevistas inéditas dos procuradores do Ministério Público de Milão envolvidos no caso. Eles dão detalhes das estratégias usadas pela investigação para conseguir as provas que levaram à condenação.
Nenhum dos acusados quis dar entrevista. O documentário foi produzido em seis meses, e as gravações começaram em março deste ano, no momento em que o julgamento do STJ sobre Robinho repercutia em todo o Brasil.
O caso ainda tem desdobramentos. O Superior Tribunal Federal marcou para este mês a retomada do julgamento sobre a decisão do STJ, que ordenou a prisão imediata do jogador.
'A pena de 9 anos imposta pela Itália, se formar uma maioria no Supremo, não cabe mais recurso', diz o advogado e professor de direito penal Davi Tangerino. "Se formar uma maioria acolhendo os argumentos da defesa, ele será solto no Brasil. Vai continuar existindo uma condenação na Itália, passível de ser cumprida pela Interpol, mas, dentro do Brasil, ele estaria solto.'
Os quatro episódios de "O Caso Robinho" já estão disponíveis para assinantes Globoplay.
'Quando eu soube que ele foi preso no Brasil... nunca é uma vitória. É uma derrota para todo mundo. Principalmente para eles... para a família e para os filhos deles.'"
Fonte: G1