O solstício de verão será no dia 21 de dezembro de 2024. Mesmo sem um La Niña oficial, a tendência fria observada no centro-leste do Pacífico Equatorial vai estimular a chuva sobre o Brasil.
Estamos nas últimas semanas da primavera. O solstício de verão, que é o início oficial do verão, será às 6h21 do dia 21 de dezembro de 2024 (hora de Brasília). A estação se prolonga até às 6h02 de 20 de março de 2025.
De forma geral, no Brasil, o verão é o chamado “período chuvoso ou período úmido” do ano, na maioria das áreas do país. É uma estação de grande aumento da frequência e do volume das precipitações.
É no verão que o Brasil, e todo o Hemisfério Sul, recebe a maior dose de isolação no ano. Isto significa que é durante o verão que temos o maior número de horas de sol disponível para aquecer o ar. O calor e o abafamento predomina em grande parte do país.
O que se pode esperar do novo verão que está chegando?
O verão 2024/2025 terá características muito diferentes do que observamos no verão passado, 2023/2024, quando um forte El Niño ainda dominava o clima global e todos os oceanos estavam atipicamente quentes, acentuando e reforçando o calor da atmosfera. Apesar do maior aquecimento, o El Niño teve um grande impacto e reduziu a chuva sobre o Brasil.
De forma geral, o El Niño reduz a chuva e o La Niña aumenta a chuva no verão do Brasil.
Pacífico Equatorial central-leste ainda não está em La Niña
No próximo verão não teremos El Niño, mas também não devemos ter um La Niña organizado.
A análise mais recente, de 18 de novembro, feita pelo centro de previsão climática da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA, na sigla em inglês), mostrou que o índice ONI (Oceanic Niño Index) para o trimestre agosto/setembro/outubro foi de -0,2°C.
O ONI é um índice baseado na média da temperatura da porção central do oceano Pacífico Equatorial. É a análise deste índice que determina em qual modo o Pacífico Equatorial central-leste está: modo neutro, modo El Niño ou modo La Niña.
Para que o modo La Niña se verifique é preciso que o índice ONI seja de pelo menos -0,5°C e por vários trimestres consecutivos.
Ana Clara Marques, meteorologista da equipe de previsão de clima da Climatempo explica:
“É pouco provável que o La Niña se configure completamente neste verão 2024/2025. Esta condição atual de neutralidade, mas com tendência fria, se assemelha muito aos efeitos de um La Niña fraco para o Brasil. Então, mesmo que oficialmente não se forme um La Niña, o “modo La Niña” não se organize completamente no Pacífico Equatorial central-leste, vamos sentir a influência aqui no Brasil desse “efeito de La Niña”.
Efeitos da neutralidade fria/La Niña fraco
Na prática, essa tendência fria do Pacífico Equatorial central-leste, mesmo não sendo um La Niña completo, vai atuar positivamente para facilitar a formação dos corredores de umidade sobre o país, estimulando mais chuva no Norte, no Centro-Oeste, Sudeste e até em áreas do Nordeste.
Ana Clara explica que “nosso verão vai ter um mês ou outro com alguma situação típica de La Niña causando, por exemplo, aumento da chuva na Região Norte do Brasil. É esperado que a Amazônia tenha mais chuva durante o próximo verão e uma condição de chuva irregular na Região Sul também. Então, vamos ter alguns períodos da estação com cara de La Niña, embora oficialmente o fenômeno provavelmente não se configure.”
ZCAS
A Zona de Convergência do Atlântico Sul (ZCAS) e a Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) são os principais e mais importantes sistemas meteorológicos provedores de chuva para o Brasil durante o verão.
O La Niña normalmente ajuda na formação do corredor de umidade entre o Norte e o Centro-Oeste e o Sudeste do Brasil, que algumas vezes podem efetivamente gerar uma ZCAS. O El Niño inibe a organização destes corredores de umidade.
A meteorologista Ana Clara Marques prevê: “Realmente parece que a partir de dezembro já vai ter a formação de mais de um episódio de ZCAS, em parte por causa dessa condição neutro-frio do Pacífico Equatorial central e leste”.
Ana Clara observa que “o fato do Pacífico Equatorial na costa do Peru estar mais frio em relação à média, já provoca uma mudança na circulação atmosférica global levando a efeitos que, para o Brasil, são típicos de um evento de La Niña, mas com fraca intensidade e de curta duração.”
Dipolo do Oceano Atlântico Tropical: porção tropical norte está mais quente do que a porção do Atlântico Tropical Sul, abaixo da linha do Equador (Fonte: NOAA)
ZCIT
Em relação à atuação da ZCIT (Zona de Convergência Intertropical), que é o principal sistema meteorológico que distribui chuva volumosa para muitas áreas do Nordeste e do Norte do Brasil, Ana Clara Marques explica:
“O Atlântico Tropical Norte está muito mais quente que o Atlântico Tropical Sul, então, o dipolo do Atlântico Tropical ainda está muito positivo. Ainda há muitas incertezas em relação à ZCIT. Nossa análise está indicando um atraso na aproximação da ZCIT para o próximo verão, mas um outono chuvoso. Outros modelos de previsão climática indicam um verão e um outono mais secos no Nordeste. Mas de forma geral, vamos ter um atraso da atuação da ZCIT neste próximo verão.”
Ana Clara Marques prevê que a ZCIT começará a ter algum efeito mais efetivo no litoral norte da Região Norte em meados de janeiro de 2025. No Amapá e no norte do Pará, os impactos da ZCIT devem começar um pouco antes, no final de dezembro de 2024. A boa notícia é que, mesmo sem um La Niña oficialmente determinado, a tendência é que chova mais sobre o Brasil no verão 2024/2025 do que no ano passado.
Média da anomalia global da temperatura da superfície do mar – 24/10/24 a 23/11/24 (Fonte:NOAA)
Oceanos quentes
Ana Clara faz ainda um alerta que vai continuar preocupando os meteorologistas e climatologistas de todo o mundo em 2025:
“Quando olhamos o oceano globalmente, é como se este resfriamento do Pacífico Equatorial na costa peruana fosse só uma pequena bolha fria. Todos os outros oceanos continuam com temperatura acima da média, como já vínhamos observando em 2023.”
Segundo a Organização Meteorológica Mundial, o ano de 2024 deve terminar como o mais quente já observado desde a era pré-industrial (1850/1900), tirando o troféu de 2023, que passaria para a segunda posição no ranking da quentura global.