Quem não treina pode tomar creatina? Entenda quando o suplemento pode trazer benefícios


Substância pode auxiliar no ganho de massa muscular em pessoas com sarcopenia, mas os efeitos positivos nas funções cognitivas não são consenso entre a comunidade científica.


É fato que a creatina traz benefícios para quem treina e faz o uso diário e correto do suplemento. Mas quem não faz exercício físico também pode usar a substância?

Os ganhos com a utilização do suplemento – que em geral são de força e resistência muscular – potencialmente seriam observados nas funções cognitivas, além de auxiliar em casos de sarcopenia e Alzheimer.

🚨Mas nem todos esses efeitos são realmente comprovados cientificamente.

👉Em resumo, o que os especialistas explicam é:

  • A creatina não é exclusiva para quem treina, mas os benefícios para pessoas sedentárias são observados em casos específicos, como idosos ou pessoas que enfrentam perda de massa muscular (sarcopenia).
  • No caso do Alzheimer, as pesquisas ainda estão em desenvolvimento, portanto não há comprovação definitiva de eficácia.
  • Já sobre os efeitos nas funções cognitivas, há estudos que mostram benefícios em alguns aspectos, mas os ganhos tendem a não ser tão visíveis em pessoas jovens e saudáveis.



Veja abaixo quais são os benefícios comprovados em cada um desses cenários.


Ganho de massa muscular

Apesar da creatina ser muito popular entre quem pratica exercícios físicos e tem como objetivo a melhora do desempenho nos treinos, o uso substância também pode ser positivo para pessoas sedentárias em algumas situações.

💪É importante lembrar que a creatina é um composto produzido pelo corpo a partir de três aminoácidos: glicina, metionina e arginina. A substância, produzida pelo fígado, pâncreas e rins, é armazenada nos músculos e utilizada como fonte de energia para as células.

No caso de pessoas saudáveis que não treinam, não há necessidade da suplementação com creatina. A ingestão não trará o efeito desejado e a substância será excretada na urina.

Diogo Toledo, nutrólogo do Hospital Israelita Albert Einstein, explica que o consumo do suplemento pode ser interessante para pessoas sedentárias com problemas específicos.

"A creatina não é exclusiva para quem treina. Pessoas sedentárias também podem se beneficiar, especialmente idosos e indivíduos que enfrentam perda de massa muscular ou problemas cognitivos", detalha Toledo.

O especialista comenta que, nesses contextos, o uso da creatina tem como objetivo melhorar a saúde muscular, além de potencialmente auxiliar na função cerebral.

Patrícia Campos Ferraz, PhD em bioquímica pelo Instituto de Biologia da Unicamp, também acrescenta que, nos casos de sarcopenia, o consumo do suplemento se mostra efetivo, principalmente em idosos.

➡️Sarcopenia é uma condição que se caracteriza pela perda progressiva de massa, força e funcionalidade muscular. Ela pode ocorrer pelo processo de envelhecimento ou por consequência de uma doença crônica.

"A creatina aumenta da geração de ATP (energia) muscular, o que eleva a quantidade de massa magra e a resistência à fadiga, especialmente em idosos", comenta.

Gustavo Starling Torres, médico especialista em Medicina Esportiva e diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte (SBMEE), também acrescenta que a suplementação pode ajudar a preservar ou ao menos reduzir o ritmo da perda muscular e melhorar a qualidade de vida.

"Obviamente, a suplementação aliada ao exercício físico, principalmente a musculação, trará os melhores resultados", complementa.

A creatina pode trazer benefícios para pessoas sedentárias com problemas específicos. — Foto: Unsplash


Estudos em casos de Alzheimer

Considerando o papel que a creatina desempenha no metabolismo energético celular alguns estudos, têm sido realizados para investigar os efeitos que a substância poderia ter em casos de Alzheimer.

Isso porque essa função é muito afetada em pacientes que desenvolvem a doença.

Patrícia Ferraz, que estudou a suplementação de creatina em seu pós-doutorado pela Escola de Educação Física e Esporte da USP, explica que há evidências de um aumento da capacidade energética cerebral com o uso do suplemento, mas a eficácia na melhora da função cognitiva em quadros de Alzheimer ainda é limitada.

"Estudos mostram que a suplementação de creatina pode melhorar a memória de curto prazo, mas seu efeito na memória de longo prazo ainda precisa de mais estudos", analisa.

➡️Uma revisão de 24 estudos que envolviam Alzheimer e a creatina como potencial tratamento publicada na revista científica International Journal of Development Research em 2023 chegou a uma conclusão semelhante.

De acordo com os pesquisadores, a creatina pode ter valores terapêuticos sobre a doença, mas a "aplicabilidade ainda está em estágio inicial e os resultados estão em processo de se tornarem evidentes".

Diogo Toledo afirma que a pesquisa do uso da creatina em casos de Alzheimer ainda está em desenvolvimento, com alguns estudos apontando que a substância poderia ter um papel neuroprotetor e ajudar na função cerebral, mas ainda não é algo comprovado.

"Não há comprovação definitiva de que a creatina seja eficaz no tratamento ou na prevenção do Alzheimer. Mais pesquisas são necessárias para entender se pode ser uma opção terapêutica viável", alerta.


Creatina e os ganhos cognitivos

Outro ponto bastante discutido quando o assunto é creatina são os ganhos que o suplemento poderia trazer às funções cognitivas.

Algumas pesquisas sugerem que a creatina pode contribuir para a melhora de aspectos como memória e concentração, principalmente em condições de alta demanda cognitiva, como em situações de estresse.

➡️Um estudo publicado na revista científica "Scientific Reports" no início de 2024, por exemplo, concluiu que a creatina poderia melhorar temporariamente o desempenho cognitivo em pessoas com privação de sono.

Starling explica que isso é observado porque o suplemento ajuda a aumentar a energia disponível no cérebro, permitindo que ele funcione melhor em momentos críticos.

Apesar dos resultados positivos, o médico alerta que esses ganhos variam muito entre indivíduos e não há consenso na comunidade científica sobre a extensão desses efeitos.

Toledo ainda comenta que os estudos mostram que a suplementação poderia aumentar a memória de curto prazo e atenção, mas que os benefícios seriam mais evidentes em pessoas com baixos níveis de creatina cerebral.

"Esses ganhos não são tão visíveis em indivíduos jovens e saudáveis que já têm bons níveis de creatina no cérebro", afirma.

O maior consenso entre os especialistas é que é possível que os benefícios da creatina possam ir além da melhoria na força e resistência, mas os resultados ainda são limitados.

⚠️Isso considerado, ainda que seja apenas para a suplementação visando o exercício, ela deve ser feita com acompanhamento médico.


Fonte: g1 Saúde




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