Simone Novais conta que depois de César enviar o vídeo, tentou falar com ele, mas o telefone já deu caixa-postal. Casal tinha três filhos e planejava comer sushi na noite do ataque. No momento do assassinato de delator do PCC, ele levou um tiro nas costas.
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Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, motorista de aplicativo baleado em Cumbica na sexta-feira (8). — Foto: Acervo pessoal |
Motorista de aplicativo baleado no aeroporto de Guarulhos manda vídeo para a esposa de dentro da ambulância
O motorista de aplicativo que morreu após o ataque a tiros que matou Antônio Vinicius Lopes Gritzbach, delator do PCC, no Aeroporto Internacional de São Paulo, na sexta-feira (8), enviou um vídeo para a esposa depois de ser baleado, dentro da ambulância.
Celso Araujo Sampaio de Novais, de 41 anos, foi atingido por um tiro de fuzil nas costas e foi internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Geral de Guarulhos. Morador de Guarulhos, ele deixa três filhos.
No vídeo curto, ele diz para a esposa, Simone Novais, que tomou um tiro e está na ambulância (veja acima).
"Ele fala assim: 'levei um tiro, estou na ambulância. Aí, depois do vídeo, eu liguei em seguida. No que eu liguei, já deu caixa postal, né?", conta à TV Globo.
"Aí, o amigo dele que estava acompanhando ele na ambulância me ligou e falou o que tinha acontecido: 'Teve um tiroteio aqui no aeroporto e eu estou na ambulância. Ele foi baleado e está perdendo muito sangue. Aí, ele falou estou indo para o hospital geral e eu já desliguei e falei que estava indo para lá também. Aí, quando eu cheguei lá, ele já estava em cirurgia. Eu já não vi mais ele vivo. Fiquei com ele o tempo todo na UTI, me deixaram ficar lá, mas aí já não acordou mais", completa;
Ela disse que eles foram casados por 21 anos e têm três filhos (20 anos, 13 anos e 3 anos).
Quarenta e cinco minutos antes do ataque, eles tinham se falado e combinado de comer sushi naquela noite. O enterro do motorista está previsto para ocorrer nesta segunda-feira (11).
Um funcionário terceirizado do aeroporto, que trabalhava no momento do ataque, também teve ferimentos na mão e está em observação no hospital.
A terceira vítima é uma mulher de 28 anos que foi atingida por um tiro de raspão no abdômen. Ela já recebeu alta.
Delator do PCC morto
Gritzbach foi alvejado à luz do dia, por volta das 16h, na saída da área de desembarque do Terminal 2 por dois homens que desceram de um carro preto. Até a publicação desta reportagem, os autores estavam foragidos. Ele levou 10 tiros, segundo registro da Polícia Civil de São Paulo.
Até o momento, ninguém foi preso.
De acordo com o registro policial, foram ao menos 29 disparos, de calibres diversos. Gritzbach foi atingido por 4 tiros no braço direito, 2 no rosto, 1 nas costas, 1 na perna esquerda, 1 no tórax e 1 no flanco direito (região localizada entre a cintura e a costela).
Duas armas foram apreendidas pela polícia neste sábado (9): um fuzil e uma pistola. As duas estavam próximo ao local em que o carro foi abandonado, a pouco mais de 7 km do aeroporto, ainda em Guarulhos. Até a publicação desta reportagem, não havia confirmação pericial de que foram elas as usadas no crime.
Empresário fez acordo para delatar PCC e policiais
Gritzbach era investigado por envolvimento com o Primeiro Comando da Capital (PCC) e, em março, havia fechado um acordo de delação premiada com o Ministério Público de São Paulo (MP-SP) com a promessa de entregar esquemas de lavagem de dinheiro.
Nos depoimentos, o empresário acusou um delegado do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de exigir dinheiro para não o implicar no assassinato de um integrante do PCC (Anselmo Santa, o Cara Preta).
Além disso, forneceu informações que levaram à prisão de dois policiais civis que trabalharam no Departamento de Prevenção e Repressão ao Narcotráfico (Denarc).
PMs que fariam escolta alegaram falha em carro para não estar no local.
O Ministério Público de São Paulo afirma que ofereceu mais de uma vez segurança ao empresário e que ele sempre recusou a proteção.
O empresário, então, contratou 4 seguranças, todos policiais militares.
Nenhum dos 4, porém, estava com Gritzbach no momento do assassinato.
Segundo depoimento de 2 deles, um dos carros em que iriam buscar Gritzbach e a namorada no aeroporto – o casal voltava de Maceió – teve um problema na ignição. O outro, ainda de acordo com os policiais, estava com quatro pessoas, e teve de fazer meia volta para deixar um dos ocupantes em um posto de combustível.
Investigadores desconfiam dessa versão (leia mais). Uma das linhas de investigação do DHPP é que os seguranças teriam falhado de forma proposital.
Fonte: G1