Secretaria de Justiça disse que perfil de pessoas que são flagradas com drogas é de mulheres, mães ou esposas de presidiários, que costumam esconder drogas nas partes íntimas.
Drogas escondidas em roupas íntimas, absorventes, costuras de peças de roupa, perucas e até sob unhas de gel. Esses são alguns dos métodos usados para levar entorpecentes aos presídios do Espírito Santo.
De acordo com a Secretaria de Justiça (Sejus), as pessoas mais flagradas são mulheres, geralmente, mães ou esposas de presidiários que acabam assumindo o risco do percurso e do flagrante como forma de pagamento de dívidas do familiar.
“A maioria das pessoas flagradas são mulheres. Por uma questão anatômica, elas conseguem esconder melhor as drogas nas partes íntimas. Além dos métodos mais comuns, como esconder sob a costura de roupas ou dentro de sutiãs, os criminosos não economizam na criatividade, já encontramos drogas embaixo de unhas de gel e até em perucas”
— Rafael Pacheco, secretário de Justiça do Espírito Santo
Droga encontrada embaixo de unhas em gel de visitante, em presídio no Espírito Santo. — Foto: Sejus/ES |
Para o secretário, as equipes têm atuado de forma rígida para impedir a entrada de materiais ilícitos, com revistas regulares nas celas e durante a entrada de visitantes. Para isso, são utilizados equipamentos eletrônicos, como os scanners corporais, portas com detector de metais, entre outros.
Entretanto, o trabalho de combate ao tráfico de drogas nas unidades prisionais é uma espécie de ‘jogo de gato e rato’, entre criminosos e agentes penitenciários.
“É um jogo de gato e rato. Quando descobrimos um método, eles rapidamente desenvolvem outro. Quando a gente proibiu a entrada de visitantes com unha de gel, agora em 2024, por exemplo, teve gente que criticou, mas ninguém sabia o motivo, na verdade não é questão de violar a liberdade do outro, é uma questão de segurança”, explicou Pacheco.
As regras descritas na portaria de visitação dos presídios estão disponíveis no site da Sejus.
Ainda de acordo com o secretário, se a pessoa passar com os entorpecentes pela revista, as visitas íntimas são a ocasião que permite a entrega de uma maior quantidade de droga de maneira menos visível. Já as visitas sociais, geralmente, envolvem pequenas quantidades de entorpecentes.
Droga flagrada pelo scanner utilizado na revista e também o flagrante do material preso nas pernas de um visitante. — Foto: Sejus/ES |
Por sua vez, o preso, para esconder o material recebido, acaba, na maioria das vezes, engolindo o entorpecente para chegar com ele até a cela.
As tentativas, em geral, ocorrem nos dias de visitação e são mais frequentes nas unidades em regime fechado, porque o presidiário não tem condições de ter acesso à droga de outra forma. Os condenados em regime fechado correspondem a quase metade dos 23.936 detentos nos presídios capixabas.
Falta de sensibilidade dos criminosos
Além de utilizar parentes próximos, os criminosos muitas vezes se aproveitam de pessoas vulneráveis para tentar burlar a segurança.
“Tivemos um caso na unidade PEVV3, em Xuri, Vila Velha, envolvendo um idoso de 85 anos, cego, diabético e cadeirante. Um senhor, que mal sabia o que estava acontecendo, estava recheado de drogas escondidas na cadeira de rodas e nas roupas. Isso mostra a total falta de sensibilidade do criminoso”, afirmou o agente.
Drogas que entra nos presídios vai porcionada, já com o intuito de venda dentro da unidade. — Foto: Sejus/ES |
Quem é flagrado tentando entrar com drogas em presídios é preso por tráfico, independentemente da quantidade apreendida.
“As drogas vêm fracionadas, prontas para venda, o que reforça a intenção criminosa. [...] Inclusive, se você for no presídio feminino, grande parte das mulheres internas estão presas por tráfico de drogas, em razão desse ciclo”, explicou.
Já os presos que recebem os entorpecentes também enfrentam novos inquéritos, que podem resultar em penas adicionais.
“Maconha é a droga mais comum nos flagrantes, seguida por haxixe. Raramente encontramos cocaína. A motivação principal para o uso de entorpecentes no presídio é a supressão do sistema nervoso central, promovendo uma sensação de calma em um ambiente hostil. Ninguém quer perder a consciência, ou ficar alterado e chamar a atenção da segurança para si”.
Dívidas perigosas e extorsão das famílias
Roupas íntimas, absorventes e até em unhas de gel: como as drogas entram nos presídios no Espírito Santo. — Foto: Sejus/ES |
Os problemas não acabam com a entrega da droga. Como no presídio não há dinheiro, quem consome precisa pagar de outra forma e a dívida recai sobre a família do usuário. Dívida, inclusive, que normalmente é alta, já que, pela dificuldade de entrada na unidade, o preço cobrado, em alguns casos, é mais de dez vezes o valor cobrado do lado de fora.
“As famílias de traficantes começam a cobrar os parentes dos detentos. Muitas vezes, a mãe de um preso, que é faxineira, se vê obrigada a pagar uma dívida que não consegue saldar”, revelou a autoridade.
Em casos extremos, as dívidas chegam a somas exorbitantes.
“Tivemos um caso no interior do estado em que a dívida chegou a R$ 23 mil. Nós fizemos um trabalho e prendemos a mulher do traficante que estava fazendo as cobranças. Se a família não consegue pagar, o ciclo de violência e pressão continua, levando muitas vezes a pessoa a transportar mais drogas para o presídio”, falou.
Campanha nas redes sociais
Para combater esse ciclo de violência e proteger as famílias, uma campanha foi iniciada nas redes sociais, incentivando denúncias anônimas.
“Nosso objetivo é proteger essas pessoas. Imagina a situação de uma mãe que, ao visitar o filho, ouve ameaças de morte. Sem ter a quem recorrer, ela se vê obrigada a pagar a dívida”, concluiu.
Na publicação, um número de telefone é divulgado para o envio de informações. “Não feche os olhos para essa realidade. Proteja quem você ama e denuncie qualquer tentativa de entrada de drogas em unidades prisionais mandando informações no whatsapp: (27) 98849-6578”.
Fonte: G1 ES