Prefeitura de Vitória e Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) realizaram vistorias no local. Para especialistas, a coloração da água é proveniente de poluição.
Um ciclista registrou a água com coloração azul em uma área de manguezal em Vitória na manhã da última sexta-feira (15), em Maria Ortiz, Vitória. Josenir Gomes, disse que mora na região há 48 anos, a cena impressionou ele e as pessoas que estavam no local.
Segundo a prefeitura do município, o vazamento de uma tinta provocou esta alteração e a gestão investiga os responsáveis.
No vídeo, Josenir mostra alguns barcos e, logo em seguida, a água completamente azul.
"Cara, eu moro aqui no Maria Ortiz há quase 50 anos e nunca vi isso. Olha como tá o canalzinho dos Escravos. Vão falar que isso aqui é normal? Um tom meio azulado, meio verde. Moro aqui a vida toda e essa eu nunca vi", comenta Gomes.
O ciclista ainda critica:
A gente fala que tá caindo produto químico no manguezal, mas ninguém acredita. Então, se puder ajudar a divulgar o vídeo para ver se chega a alguma autoridade competente porque, pra mim, isso normal nunca foi. O canal tá todo tomado", finalizou.
Imagens foram registradas por volta das 10h na Canal dos Escravos, em Vitória, no Espírito Santo — Foto: Reprodução
Segundo o ciclista, as imagens foram gravadas por volta das 10h no Canal dos Escravos, localizado na região do manguezal de Maria Ortiz.
Josenir disse que outras pessoas estavam no local e também ficaram surpresas com a coloração da água. "A primeira reação foi de espanto. Eu moro, pesco... Estou a vida toda aqui e nunca vi isso. Aí eu mostrei o vídeo e algumas pessoas que era besteira, outras falaram que era bonito. Foi uma imagem chocante", destacou.
Devido à repercussão do vídeo do ciclista, inclusive repostado por outros perfis, alguns internautas insinuaram que se tratava de filtro, o que ele negou.
"Então, eu fiquei até meio chateado. Eu nasci e fui criado aqui no manguezal, na beira da maré. Eu fiz o vídeo me preocupando com o que estava acontecendo. Me mandaram algumas mensagens dizendo que era filtro, mas não é", Josenir.
O ciclista acrescentou também que na tarde do mesmo dia, voltou ao local e a água não estava mais daquela cor. "Acho que [aquilo aconteceu porque] a maré estava seca, vazia, e essa água veio de algum lugar. Algumas pessoas disseram que era tinta dos barcos, mas eu acho que, se fosse, não deixaria a água azul assim", finalizou.
Especialista diz cor só pode ser artificial
A reportagem conversou com a professora de Geografia Física da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Cláudia Câmara do Vale, sobre a coloração da água. Segundo a especialista, trata-se de poluição.
"Eu estudo o manguezal desde 1991 e nunca vi uma situação dessa na minha vida. Às vezes, a água fica mais esverdeada pela presença de algas, mas este azul não é natural e nem normal. Só vem a minha cabeça que algum produto químico foi despejado na área", explicou.
A professora explicou ainda que a Baía de Vitória tem uma rica área de manguezal, fundamental para a vida marinha e controle do aquecimento global.
"Os manguezais da baía pertecem a quatro município, pelo menos, que é Vitória, Cariacica, Serra e Vila Velha. Infelizmente, podemos destacar que já muito lixo que ainda é jogado no manguezal de forma inadvertida", pontuou.
O que diz os órgãos ambientais
Na tarde deste sábado (16), o secretário do Meio Ambiente de Vitória, Tarcísio Foeger, confirmou que houve um vazamento de tinta azul no local, provocando a alteração da cor da água no manguezal.
"Hoje não há nenhum indício dessa coloração aqui, mas estaremos monitorando toda a região e fiscalizando as atividades potencialmente poluidoras para saber de onde veio esse material e qual o nível de impacto sobre o nosso ecossistema manguezal. Pedimos que qualquer informação, seja enviada no 156, sob total sigilo. Vamos identificar isso e tomar as medidas cabíveis de acordo com a legislação em vigor", finalizou.
A Companhia Espírito-Santense de Saneamento (Cesan), afirmou, em nota, que "o lançamento de efluente tratado da Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) Camburi é realizado em conformidade com os padrões de outorga dos órgãos fiscalizadores e não causam qualquer alteração na cor do canal".
Já o Instituto Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Iema) informou que realizou vistoria no local na sexta-feira (15) e na manhã deste sábado (16), para observar o local tanto na maré alta quanto na baixa, mas não foram encontrados vestígios ou sinais do ocorrido. O órgão segue acompanhando o caso.
Fonte: g1 ES