A depressão de fim de ano, também chamada de 'holiday blues', causa sintomas como desânimo, cansaço físico e mental, irritabilidade, dificuldade para dormir ou sonolência, baixa autoestima, alterações no apetite, falta de concentração e crises de choro. Pode ser necessário recorrer a ajuda profissional para passar pelo transtorno psicológico
A depressão de fim de ano pode ser desencadeada por brigas familiares, lutos, gastos financeiros e pela falsa realidade das redes sociais — Foto: MART PRODUCTION/Pexels
Ainda que dezembro seja o mês de grandes celebrações -- como o Natal e o Ano Novo --, carregadas de alegria e simbolismo, o último mês do ano também pode trazer sentimentos desafiadores. Como a melancolia de precisar encerrar ciclos, lidar com familiares e amigos com que você não conversou o ano inteiro, ficar frustrado ao fazer o balanço do que conquistou no ano e parecer que não saiu do lugar, entre outros fatores. É nesse segundo cenário que surge a depressão de fim de ano, também chamada de holiday blues.
"É um fenômeno real que afeta diversas pessoas nessa época festiva. Embora o fim do ano seja geralmente associado às celebrações e encontros familiares, ele pode trazer sentimentos de tristeza, angústia e solidão para alguns indivíduos, principalmente para quem já tem tendência aos quadros psiquiátricos. Esse estado emocional, embora transitório, pode ser intenso e evoluir para quadros mais graves", explica a psiquiatra Giovanna Braga Quinet de Andrade, da Clinica Revitalis.
Os sintomas apresentados pelas pessoas com depressão de fim de ano são semelhantes aos sinais depressivos tradicionais. Andrade cita o desânimo, cansaço físico e mental, irritabilidade, dificuldade para dormir ou sonolência, baixa autoestima, alterações no apetite, falta de concentração e até crises de choro.
O que motiva a depressão de fim de ano?
A psicóloga Larissa Fonseca, especialista clínica em ansiedade, crise de pânico, burnout e sono, explica que a chegada do fim de ano faz as pessoas refletirem sobre o que conquistaram ou não nos últimos 365 dias, o que pode acarretar na sensação de fracasso por não ter dado conta de tudo. Em contrapartida, a tristeza leva ao sentimento de culpa por não estar feliz em um período alardeado como positivo.
Enquanto o Natal e o Ano Novo criam a expectativa de felicidade e harmonia entre familiares, nem sempre dividir laço sanguíneo é garantia de respeito e muito menos de afinidade.
“O ambiente festivo cria expectativas de união, mas conflitos mal resolvidos e diferenças pessoais tornam essas reuniões potencialmente desgastantes. Além disso, cobranças, comparações e julgamentos amplificam a sensação de ser incompreendida com tendência ao isolamento, dificultando, assim, o equilíbrio no período festivo”, reflete Fonseca.
O fim de ano também pode ser mais desafiador, acarretando em um quadro de depressão, para quem está lidando com o luto após a partida de uma pessoa que amava. Consequentemente, esse indivíduo sente-se sozinho. O mesmo vale para quem tem família longe, sem poder visitá-la nas festividades.
Andrade cita também o desgaste em relação ao dinheiro que acontece no mês de dezembro. Gasta-se muito para comprar presentes, alimentos mais elaborados para as festas, viagens, entre outras despesas. “Para quem já enfrenta dificuldades financeiras, essa pressão pode causar stress adicional e sentimentos de incapacidade”, complementa a psiquiatra.
A mudança de rotina que acontece em dezembro também pode ser um fator perigoso para quem já é mais suscetível a desenvolver transtornos psicológicos. “O período é marcado por festas e confraternizações, o que pode alterar horários de sono, alimentação e o consumo de álcool. Essas mudanças impactam a regulação emocional, deixando as pessoas mais vulneráveis”, detalha Andrade.
Se não bastasse o que acontece no mundo real, o virtual adiciona uma cada a mais de desafio para o processo. Fonseca pontua que as redes sociais dão a sensação de que apenas o outro está tendo sucesso e, consequentemente, está feliz.
“O cansaço físico e mental de um ano inteiro, somado à pressão emocional interna para “encerrar pendências”, também trazem consequências de desgaste emocional”, completa Fonseca.
O que fazer para amenizar as dores das festas de fim de ano?
Andrade enfatiza que é preciso começar aprendendo a impor os próprios limites. Isso significa que você não é obrigada a frequentar lugares e falar com pessoas que não queira, mesmo que elas sejam da sua família.
Outras opções, listadas por Andrade e Fonseca, são:
- Liste conquistas anuais ou diárias para exercer a empatia consigo mesma e entender que, no panorama geral do ano, os motivos de comemorar também existem e merecem ser celebrados;
- Seja sincera consigo e trace metas mais realistas para 2025. Assim, a frustração é retirada da equação;
- Permita-se ter momentos de descanso, sem pensar que não está produzindo o suficiente. Não se deixar descansar é uma armadilha que não vale a pena, pois ela associa sentir-se amado a ser útil;
- Não tenho medo de dialogar com a sua rede de apoio sobre o que está sentindo, porque a experiência compartilhada fica mais leve e gera identificação;
- Cuide da sua saúde de forma integral: durma bem, alimente-se de forma equilibrada e modere no consumo de álcool. A regulação do corpo impacta diretamente na saúde emocional;
- Caso faça sentido, conecte-se com a espiritualidade da forma que você acredita. Isso pode ajudar a criar um propósito para o próximo ano que envolva ser mais gentil consigo mesmo no processo.
Quando é hora de procurar por ajuda profissional no fim de ano?
Fonseca explica que se a tristeza, o isolamento social ou o cansaço físico e mental persistirem por semanas e, mais do que isso, afetarem o desempenho do indivíduo em áreas como trabalho, estudo e relacionamento, deve-se procurar ajuda psicológica e/ou psiquiátrica.
“Alterações no sono e no apetite e pensamentos negativos constantes também indicam a necessidade de acompanhamento médico”, complementa a psicóloga.
Quem é mais suscetível a desenvolver depressão de fim de ano?
- Quem já enfrenta ansiedade ou depressão anteriormente;
- Quem teve uma perda recente, está com um parente doente ou tem memórias de entes queridos ausentes;
- Pessoas que estão enfrentando momentos de mudanças como separação e desemprego;
- Quem está em dificuldade financeira;
- Quem tem uma rede de apoio frágil;
- Pessoas muito perfeccionistas ou que se cobram excessivamente.
“Fim de ano é uma época de renovação, mas também de acolhimento - consigo mesma e com os outros. Se os sentimentos ruins aparecem, trata-se compaixão e não hesite em buscar ajuda”, reflete Andrade.
Fonte: Marie Claire