Dia Mundial de Luta Contra a Aids: prevenção vai além da camisinha

Com acesso ao tratamento, PEP e PrEP, é possível acabar com essa epidemia

Foto: iStock / Jairo Bouer

A PrEP é um dos pilares para evitar a infecção pelo HIV

Nos últimos dias, às vésperas do Dia Mundial de Luta Contra a Aids (celebrado hoje), o Unaids (programa das Nações Unidas voltado para a doença) lembrou que 630 mil pessoas em todo o mundo morreram por doenças relacionadas à Aids, em 2023, e 1,3 milhão adquiriram o HIV. Os dados contrastam com o fato de que nunca tivemos tantos recursos para evitar novas infecções e, principalmente, as mortes pela doença.

Neste Dezembro Vermelho, mês de conscientização sobre a doença, é fundamental que todas as pessoas conheçam as formas de evitar a infecção pelo HIV, e, uma vez infectadas, tenham acesso ao tratamento, que é gratuito. Confira, abaixo, algumas perguntas e respostas relevantes sobre HIV/Aids.


Qual a diferença entre HIV e Aids?

O HIV é o vírus causador da Síndrome da Imunodeficiência Humana (Aids). Mas é possível uma pessoa se infectar com o vírus HIV e nunca desenvolver Aids. O HIV é um retrovírus [armazena suas informações genéticas no RNA e não no DNA, como a maioria dos seres vivos]. Por isso, possui características que influenciam no quadro clínico do paciente, como o fato de ter um período de incubação prolongado. O surgimento de sinais e sintomas da infecção é igualmente demorado.

Em resumo: a Aids é uma doença causada pelo vírus HIV, que ataca o sistema imunológico do paciente infectado, mas nem todos aqueles com diagnóstico positivo para o vírus desenvolverá a doença. O HIV pode ser transmitido, não a Aids.


Como o HIV é transmitido?

Sexo com penetração (anal ou vaginal) sem camisinha;

Sexo oral sem camisinha (ainda que o risco seja muito pequeno nesse caso, ele existe);

Compartilhamento de seringa, ou outros instrumentos que furam ou cortam, que estejam com sangue contaminado;

Transfusão de sangue contaminado;

De mãe para filho(a) na gravidez, através do parto ou durante a amamentação.


Como o HIV não é transmitido?

Sexo desde que se use corretamente a camisinha;

Masturbação a dois;

Beijo no rosto ou na boca;

Suor e lágrima;

Picada de inseto;

Aperto de mão ou abraço;

Sabonete/toalha/lençóis;

Talheres/copos;

Assento de ônibus;

Piscina;

Banheiro;

Doação de sangue;

Pelo ar.


Ter carga viral indetectável impede a transmissão?

Sim, e esta é uma informação muito importante! Uma pessoa com sorologia [exame do soro sanguíneo] positiva para o HIV e que faz o tratamento antirretroviral (Tarv) corretamente será indetectável [terá carga viral em níveis muito baixos] em questão de tempo. Segundo o Ministério da Saúde, uma pessoa indetectável também é intransmissível, portanto, não transmite mais o vírus. Então, quando a pessoa toma os medicamentos antirretrovirais, ela diminui tanto a quantidade de vírus circulante em seu organismo, que fica muito difícil encontrar o HIV no sangue dela, e isso é ótimo, porque assim ela também não passa esse vírus para outra pessoa. Em outras palavras: uma das formas importantes de prevenção contra a infecção pelo HIV é justamente o tratamento antirretroviral.


Quais os sinais e sintomas da infecção?

O quadro clínico apresentado pelo paciente que se infecta com o HIV é muito variado e pode passar despercebido. Em geral, entre 2 e 4 semanas após a infecção, ocorre um conjunto de sinais e sintomas que recebe o nome de Síndrome Retroviral Aguda, e que pode incluir:

Febre (em torno de 38,5º);

Cefaleia (dor de cabeça);

Astenia (fraqueza);

Faringite;

Mialgia (dor muscular);

Manchas avermelhadas no corpo;

Adenopatia (aumento de gânglios).

Mas tão logo esses sintomas surgem, eles também desaparecem. Por isso, o quadro pode se confundir com qualquer outro tipo de processo infeccioso. Estima-se, por isso, que mais de 112 mil brasileiros desconheçam que têm o vírus (segundo dados de 2019).

A fase de latência clínica do HIV é marcada pelo declínio das células CD4+ [do sistema imune] e aumento da carga viral circulante no organismo não tratado. Essa fase da infecção pode durar anos, sem o indivíduo saber que está com sorologia reagente para o vírus.

A célula T CD4+ faz parte do nosso sistema imunológico. Conforme a contagem de CD4+ vai diminuindo no organismo, a pessoa com HIV passa a ficar exposta a outras infecções e doenças, e passa também a apresentar sinais e sintomas mais específicos de uma imunossupressão importante como:

Diarreia crônica;

Alterações neurológicas;

Infecções bacterianas;

Lesões orais;

Infecções respiratórias.

Uma pessoa entra em estágio de Aids quando a contagem de CD4+ fica abaixo de 200 células por mm³ de sangue. É nessa etapa que surgem as chamadas infecções oportunistas, como: pneumocistose (doença pulmonar causada por fungo); neurotoxoplasmose (infecção do sistema nervoso central); sarcoma de Kaposi (câncer de vasos sanguíneos); tuberculose pulmonar atípica e disseminada (miliar); e candidíase oral persistente.

Além disso, a pessoa apresenta também perda de peso inexplicada (<10% do peso), febre persistente por mais de um mês (>37,6º) e sudorese noturna.


Tive uma relação suspeita; quando faço o teste?

Entre a exposição ao vírus HIV e a produção de anticorpos, o organismo demora, em média, de 15 a 30 dias para reagir contra o vírus. Ou seja, para um diagnóstico fidedigno, afastando a possibilidade de ocorrer falso-negativo, a pessoa que se expôs deve procurar realizar o teste após esse período, que é conhecido como janela imunológica, já que os testes sorológicos detectam o anticorpo no organismo.

É possível realizar o teste rápido em algum Centro de Testagem e Aconselhamento que compõe a rede de tratamento das Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) do Ministério da Saúde. Elisa e Western Blot são testes que também podem detectar o HIV e, comumente, são solicitados pelo médico na suspeita da doença.


Como é o tratamento de infecção por HIV?

Com o diagnóstico reagente para HIV em mãos, o paciente tem o direito de ter acesso aos medicamentos pelo SUS. O tratamento precoce é importante medida de prevenção e garantia de qualidade de vida. Então, aderir bem ao tratamento proposto pelo médico infectologista afasta doenças oportunistas e mau prognóstico.

Os medicamentos avançaram muito e hoje os efeitos colaterais são cada vez menos frequentes, podendo uma pessoa em tratamento antirretroviral viver normalmente, como se tivesse qualquer outra doença crônica, como hipertensão ou diabetes.


Como se previne o HIV?

Existem várias formas de prevenção contra o HIV. Os preservativos, tanto peniano quanto o vaginal, desempenham papel importante na prevenção não apenas desse vírus, mas também inúmeras outras IST. Mas também há outros recursos importantíssimos, como a PrEP e a PEP.


PrEP - Profilaxia Pré-Exposição

A PrEP é um medicamento antirretroviral tomado diariamente, que impede a infecção pelo vírus HIV. É uma combinação de antirretrovirais que têm o intuito de criar uma espécie de blindagem no organismo de uma pessoa que venha a entrar em contato com o vírus. Se isso ocorrer, a infecção não acontece, porque a PrEP está circulando no sangue daquele indivíduo, o que explica o motivo de ser uma medida profilática pré-exposição. Uma versão injetável desse medicamento, com efeito prolongado, pode trazer uma série de vantagens para os usuários, mas ainda não está amplamente disponível.


Atualmente, a PrEP é indicada para:

Homens gays, bissexuais e outros homens que fazem sexo com homens;

Pessoas trans (mulheres transexuais, travestis, homens trans e pessoas não-binárias);

Profissionais do sexo ou pessoas que eventualmente recebam dinheiro ou benefícios em troca de serviços sexuais;

Pessoas que estejam se relacionando com uma pessoa vivendo com HIV (casais sorodiferentes).


PEP - Profilaxia Pós Exposição

É como se fosse uma pílula do dia seguinte, só que para a prevenção do HIV. Uma pessoa que se expôs ao vírus, seja através de relação sexual desprotegida ou até num acidente ocupacional, pode procurar o serviço especializado e solicitar os medicamentos que compõem o esquema da PEP. Resumindo: a PEP é indicada para toda e qualquer pessoa que se expôs ao risco de contrair HIV.

Porém, é importante frisar: você tem até 72 horas após a exposição para iniciar o tratamento pós-exposição e os medicamentos devem ser tomados corretamente durante 28 dias.


Existe cura para o HIV?

A comunidade científica atualmente considera alguns raros casos de "cura" da doença. São pacientes com HIV controlado e que foram submetidos a transplantes de medula óssea por causa de um câncer hematológico. Isso fez com que eliminassem as células alteradas e, também, as células infectadas com o HIV. Vale mencionar que o transplante é um procedimento caro, envolve uma série de riscos, e poucos pacientes foram, até hoje, curados dessa forma, apesar de dezenas de tentativas semelhantes.

Outros casos raríssimos de cura envolvem os chamados "controladores de elite", ou seja, situações raras em que a própria imunidade da pessoa contra o HIV é tão eficiente que mantém o vírus sob controle e indetectável mesmo sem tratamento antiviral. São episódios que têm sido acompanhados pelos cientistas e que trazem esperanças de que, um dia, seja possível transformar outras pessoas em "controladores de elite".


Há alguma vacina em vista?

Várias iniciativas mundiais têm se empenhado na busca de uma vacina contra o HIV, há décadas, inclusive no Brasil. Mas nenhuma ainda trouxe resultados comparáveis aos de vacinas como a da Covid, por exemplo. Uma das justificativas é que o HIV é um vírus muito mais complexo e variável do que outros micro-organismos, como o próprio coronavírus.

Fonte: Terra


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