Falta de profissionais obriga famílias no Espírito Santo a adiarem reformas e reparos em casa e faz subir o valor cobrado pelo trabalho
Gustavo precisa de um pedreiro para fazer a fachada de casa, mas não sabe quando terá o serviço | Foto: Acervo pessoal |
Há um ano, o vigilante Gustavo Ferreira dos Santos Rocha, 36 anos, deixou o seu apartamento para morar em uma casa, na Serra.
Agora, ele precisa de um pedreiro para fazer a fachada da sua casa e também resolver uma emergência, que é infiltração que apareceu no teto do banheiro. Só que ele está há cerca de dois meses na fila de espera do seu pedreiro e ainda não sabe quando chegará a sua vez.
Ele não é o único que enfrenta a escassez de mão de obra. Por conta desse “apagão”, reformas e reparos têm sido adiados e a diária do pedreiro chega a custar R$ 400.
O presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil no Espírito Santo (Sinduscon-ES), Douglas Vaz, confirma a falta de mão de obra. O que há, segundo ele, é uma dificuldade, em função do envelhecimento na idade média de ajudantes, carpinteiros, mestres de obra.
“É evidente que o setor não está atraindo tantos jovens para trabalharem nos canteiros de obra como no passado. De 2015 a 2022 houve redução de 9,33% no número de empregados com carteira assinada com idade até 39 anos. Já o número de trabalhadores com 40 anos ou mais subiu 13,99% no mesmo período, no Espírito Santo”.
A questão, de acordo com ele, é como fazer com que o setor seja atrativo para a mão de obra mais jovem. “Sabemos que precisamos fazer a indústria da construção se tornar mais moderna e mais industrializada. A tecnologia é o caminho para que a indústria aumente a produtividade e o bem-estar dos trabalhadores, para que volte a motivar pessoas em início de vida ativa profissionalmente. Além de atrair mão de obra mais jovem, ainda é preciso qualificar”.
O empresário Fernando Otávio Campos, diretor de Relações do Trabalho do Sindicato da Indústria da Construção Civil de Guarapari (Sindicig), cita um exemplo em que a diária chegou a custar R$ 400 em uma casa nova na Ponta da Fruta, Vila Velha.
“O proprietário teve problemas e precisou de pedreiros para concluir. Os pedreiros, entre eles um funcionário do meu hotel na sua folga, foram fazer assentamento de porcelanato a R$ 400 por dia, valor pago a cada um dos profissionais”.
Empresário do setor, João Roncetti também falou sobre esse apagão. “A mão de obra está difícil, nós ainda temos porque pagamos bem aos profissionais, isso nos ajuda a não faltar nossa mão de obra, pagamos por produção. Alguns de nossos profissionais chegam a ganhar mais de R$ 12 mil por mês”.
Cinco meses de espera
Quem também está à espera de um pedreiro há cerca de cinco meses é a dona de casa Nadir Nascimento Filomeno, de 68 anos.
Ela contou que a previsão é que as obras comecem em janeiro do ano que vem.
“Aqui em casa é preciso terminar um banheiro do lado de fora, colocar piso na área de serviço, fazer pinturas em alguns lugares e colocar uma porta em um cômodo”.
Para Nadir, na hora de contratar um pedreiro ela observa a qualidade do serviço prestado e principalmente a confiança no profissional. “Por isso eu espero a minha vez”.
Faltas e atrasos adiam conclusão
Porto de Vitória: faltas e atrasos menos frequentes entre profissionais 40+ | Foto: Divulgação / Vports |
Além da escassez de mão de obra na construção civil, uma outra realidade traz transtornos para quem precisa cumprir os cronogramas de obras: o absenteísmo, que é a falta ou atraso frequente de um funcionário no trabalho.
Para evitar problemas e até multas, empresas estão contratando até o dobro de profissionais, estratégia essa que foi adotada por Anderson Polido, gerente de Engenharia, Manutenção e Projetos da Vports.
“A gente fez oito grandes obras. Nessas, contratamos aproximadamente entre 1,5 mil a 2 mil funcionários. Teve obra que a gente chegou a ter 50% de absenteísmo. Tivemos que contratar o dobro para não perder o prazo contratual porque ou o funcionário faltava ou abandonava a obra. Isso foi agora, de 2024 pra cá. A gente está com obra no Porto desde março de 2023, R$ 130 milhões de investimento”.
Entre as obras citadas por ele, estão: revitalização de todos os galpões do centro de Vitória, recuperação da ferrovia e os dois armazéns graneleiros.
“Nessas obras usam muito a construção civil e teve situações que a gente precisou aumentar em quase 50% a quantidade de funcionários para não perder o prazo contratual, sob risco de perder a concessão. A maior parte que não promovia absenteísmo eram profissionais acima de 40 anos”.
Especialista em acabamentos
Uma média de três meses. É esse o prazo que os clientes do pedreiro Adailton Santos Costa, de 36 anos, esperam. Ele conta que depois de 15 anos trabalhando numa empresa de construção civil, há um ano decidiu trocar a carteira assinada para tocar o seu próprio negócio por conta da demanda alta no setor. Ele trabalha com um ajudante de obra.
“Hoje eu trabalho mais reforma geral, mas como sou especializado em acabamentos, quero me dedicar mais a fazer serviços de revestimento e porcelanato”.
Fonte: Tribuna Online