Pelo menos sete mulheres denunciam procedimentos realizados, que provocaram ‘deformidades permanentes’
Biomédico é indiciado por realizar procedimento irregulares em clínica estética em Vitória. Espírito Santo. ( Divulgação | PCIES) |
O Ministério Público do Espírito Santo (MPES) denunciou um biomédico, uma farmacêutica e uma odontologista, que atuavam em uma clínica estética, em Vitória, depois que pelo menos sete mulheres denunciarem problemas enfrentados após procedimentos realizados, os quais deram errado ou causaram 'deformidades permanentes'. A apuração é do g1ES com informações obtidas pela Rede Gazeta.
Ricardo Alderico Corteletti, é biomédico, sócio e administrador da clínica que fica no bairro Enseada do Suá, na capital. A farmacêutica Renata Zucoloto Torres Duarte, e a odontologista Raquilaine Pioli Vieira, trabalhavam no mesmo local.
O g1 teve acesso com exclusividade ao documento do Ministério Público, nesta quarta-feira (11), que descreve que os denunciados ‘'exerceram a profissão de médico, realizando procedimentos cirúrgicos, sem autorização legal, excedendo os limites permitidos pelos seus respectivos Conselhos Federais e Regionais (Conselho Federal de Biomedicina, Conselho Federal de Farmácia e Conselho Federal de Odontologia)”.
Segundo a polícia, Ricardo Corteletti estava com registro profissional cassado desde maio de 2024, e, ainda assim, atendeu cerca de 600 pessoas, segundo a corporação.
No entendimento da promotora de Justiça Lucimara Marques Adami, Corteletti se passou por médico, induzindo à vítima citada na denúncia ao erro, e pontuou que o biomédico realizou cirurgia invasiva e aplicou produtos que paciente não queria, o que foi comprovado com a realização de uma ultrassonografia facial.
Já sobre Renata e Raquilaine, o entendimento também é o de que ambas excederam os limites de atuação de suas profissões, em procedimentos que não são de sua especialidade e até mesmo com a realização de cirurgia.
MP denuncia biomédico, farmacêutica e odontologista após denúncias de pacientes de clínica estética em Vitória. ( Divulgação | PCIES) |
De acordo com o documento, os denunciados causaram lesões de natureza gravíssima, consistente na deformidade permanente, o que se verifica nas fotos acostadas aos autos do Inquérito Policial (IP).
Ainda segundo a denúncia, os profissionais também praticaram o crime de estelionato, induzindo uma das vítimas ao erro, 'com o fim de obter vantagem econômica indevida, fazendo cirurgia que não foi autorizada por ela e enxertando em seu corpo materiais não autorizativos para o procedimento'. O prejuízo para a paciente foi de R$ 19 mil.
Relembre o caso
O biomédico de 39 anos foi indiciado por suspeita de atuação irregular em uma clínica estética, em Vitória. Segundo a Polícia Civil, pelo menos sete mulheres denunciaram procedimentos realizados por Ricardo Corteletti.
O profissional estava com registro profissional cassado desde maio de 2024, e, ainda assim, atendeu cerca de 600 pessoas, segundo a corporação.
As informações foram divulgadas nesta terça-feira (10). Uma funcionária que atuava como assistente de Ricardo Corteletti também foi indiciada. A mulher não teve o nome revelado. Corteletti foi indiciado pelo crime de estelionato, lesão corporal gravíssima e exercício ilegal da Medicina.
Biomédico é indiciado por realizar procedimento irregulares em clínica estética em Vitória. Espírito Santo. ( Divulgação | PCIES) |
A clínica funciona desde 2020, na Enseada do Suá, bairro nobre da capital. O delegado Diego Bermond comentou que o estabelecimento passava credibilidade para os pacientes.
“O alvo da investigação é esse biomédico, que é o sócio administrador dessa clínica, inclusive ele se intitula CEO, traz credibilidade em relação a esse tipo de golpe que ele praticou, tanto pelo fato da clínica ser luxuosa, tanto pelo fato de ser localizado em um bairro muito nobre da nossa capital. Isso faz com que as vítimas acabem sendo atraídas ali, acreditando que estão sendo operadas com uma pessoa devidamente habilitada”, apontou.
Sem identificar, uma das pacientes contou que conheceu a clínica pelas redes sociais.
Procurei essa clínica no Instagram, mas cheguei lá, fui muito bem atendida. O que me encantou foi o jeito como eles me trataram, tudo muito bonito, muito maravilhoso.
A mulher realizou um procedimento conhecido como lifting facial que em um primeiro momento pareceu dar certo, mas, meses depois da intervenção, os problemas começaram.
“Quando eu fui retirar os pontos, os problemas começaram a aparecer. O rosto começou a ficar inchado demais, a doer, apareceram nódulos. O objetivo do procedimento é rejuvenescer, eu não, comigo foi ao contrário”, apontou.
Para o advogado Amarildo Santos, que representa outras duas vítimas, os reflexos dos procedimentos vão além de questões estéticas, mas provocaram também prejuízo psicológico.
“Uma dessas clientes passou pela UTI, em duas situações teve infecção no rosto, hematomas, teve que passar por várias cirurgias plásticas para reparar os danos. [...] Mas, as duas também entraram em estado depressivo, hoje fazem acompanhamento com psiquiatra, com psicólogo, aquilo que era um sonho virou pesadelo”, descreveu.
Clínica segue funcionando
Apesar do indiciamento, a Polícia Civil informou que o homem não foi preso e a clínica segue funcionando, porém sem a atuação do investigado.
Segundo o delegado, a investigação vai entrar em uma segunda fase, com o objetivo de identificar outras vítimas. Além da Polícia Civil, a operação ‘Ponto Cirúrgico’ contou com a participação da Polícia Científica, Vigilância Sanitária de Vitória, Conselho Regional de Medicina (CRM) e Conselho Regional de Biomedicina (CRBM).
O que diz a defesa
Procurado, o advogado que representa a clínica e o biomédico enviou um posicionamento sobre o caso.
Veja nota completa:
"Informamos que o profissional investigado sempre trabalhou dentro dos limites de sua profissão, tendo uma clínica multidisciplinar na qual outros profissionais atuam e realizam procedimentos de suas competências. Não há nenhum processo transitado em julgado ou sequer com sentença que comprove atuação ilegal do profissional, que age com boa-fé e probidade, obedecendo ao código de ética de sua profissão. Convém destacar, ainda, que foi arquivado recentemente processo relativo ao exercício profissional por não haver nenhuma prova de qualquer atuação ilegal".
Fonte: A Gazeta