Francês soma 11 gols em 21 jogos pelo clube espanhol, mas performances abaixo do esperado geram questionamentos
Kylian Mbappé tem enfrentado dificuldades no Real Madrid desde sua transferência dos sonhos • Robbie Jay Barratt/AMA/Getty Images
Alguns chamam de confiança, outros diriam que é arrogância, mas a forma como Kylian Mbappé sempre se portou em campo e a inabalável autoconfiança que ele evidentemente possui têm desempenhado um papel crucial em seu sucesso como jogador e sua comercialização como atleta.
Seja por Monaco, Paris Saint-Germain ou pela França, Mbappé sempre prosperou nos momentos de maior pressão, como por exemplo marcando um hat-trick em uma final de Copa do Mundo ou gols decisivos na Champions League.
A transferência do francês para o Real Madrid parecia ser o casamento perfeito: o jogador superstar se juntando ao gigante glamouroso, o clube com o qual sonhava jogar desde menino. Mas os primeiros meses após a união têm sido turbulentos, é justo dizer, mesmo que alguns comentários iniciais sobre uma crise estejam longe da realidade.
Os 11 gols e duas assistências de Mbappé em 21 jogos em todas as competições nesta temporada não são números ruins para um atacante que está se adaptando ao novo clube — mas Mbappé não é um jogador qualquer, e o Real Madrid não é um clube qualquer.
O ponto mais baixo de seu início de vida na Espanha ocorreu na semana passada, quando Mbappé perdeu dois pênaltis cruciais no intervalo de sete dias em derrotas para Liverpool e Athletic Bilbao.
“Um grande erro em uma partida onde cada detalhe conta”, escreveu Mbappé em um story no Instagram após a derrota para o Athletic. “Assumo total responsabilidade por isso. Um momento difícil, mas é a melhor hora para mudar essa situação e mostrar quem eu sou.”
O jogador de 25 anos ajudou a aliviar um pouco da pressão inicial sobre seus ombros ao marcar o terceiro gol na vitória do Real por 3 a 0 sobre o Girona, no sábado (7), por LaLiga, mas Mbappé ainda está longe dos altos padrões que estabeleceu anteriormente para si mesmo.
“A característica definidora desses meses iniciais tem sido uma sensação geral de performances abaixo do esperado”, diz Ruairidh Barlow, editor do Football España, à CNN.
“Acho que Mbappé recebeu muito apoio do time, muito apoio do clube. Os torcedores até tentaram animá-lo um pouco. Mas o que Mbappé tem perdido mais do que qualquer outra coisa, além de gols e performances, é aquele caráter de alguém que tem sido um dos melhores jogadores do mundo por muito tempo, alguém que ganhou Copa do Mundo, alguém que marcou um hat-trick na final da Copa quando seu time realmente precisava.”
Barlow diz que o último mês ou dois “se transformaram em uma espécie de crise de confiança” para Mbappé. Mas as dificuldades do astro francês não são exclusivas no Real Madrid nesta temporada.
Em todo o campo, jogadores têm atuado abaixo de seu melhor, principalmente Jude Bellingham e Aurélien Tchouaméni, enquanto o time como um todo parece desconexo e inofensivo. No Santiago Bernabéu, o famoso estádio do Real, o time já perdeu tantos jogos nesta temporada quanto em toda a temporada passada.
Carlo Ancelotti, técnico do Real, reconheceu recentemente que os problemas de adaptação de Mbappé são apenas parte de um problema coletivo que o time está sofrendo. A queda de rendimento de Bellingham e Tchouaméni, duas peças cruciais no meio-campo, tem particularmente agravado as dificuldades do time.
“O Real Madrid está tendo dificuldades para essencialmente ligar seu meio-campo e seu ataque”, explica Barlow. “Você viu isso contra o Athletic, onde eles simplesmente não conseguiam jogar pelo meio, então foram reduzidos a bolas longas, o que obviamente não é o forte de Mbappé.”
Ancelotti tem tentado ajustar seu ataque, o que foi parcialmente forçado pela recente lesão de Vinicius Júnior, embora tenha trazido resultados mistos. Mbappé tem atuado no centro do ataque do Real como um camisa 9 mais tradicional, além de breves momentos pela ponta esquerda. Nenhuma das posições trouxe muita melhora, o que Barlow atribui parcialmente à falta de um centroavante nesta temporada.
“Quando Mbappé jogava pelo meio e precisava fazer muito trabalho de costas para o gol, ele estava tendo dificuldades porque, francamente, não é esse o seu jogo”, acrescentou Barlow.
“Depois houve três jogos em que ele foi deslocado para o lado esquerdo e isso não trouxe uma melhora real na minha opinião, essencialmente porque o Real Madrid não tem um camisa 9 no elenco… então você o vê jogando em uma função que não é particularmente adequada para ele”.
“Faltam os perfis que você precisa em um time e isso foi visto na temporada passada. Sempre que o Real Madrid estava em apuros, eles colocavam o Joselu. Ele era, na verdade, uma parte subestimada e muito importante do time”.
“Para a seleção francesa também, Mbappé sempre exigia, essencialmente, que Giroud jogasse porque isso permitia que ele jogasse apoiado naquele centroavante forte, aquela figura do camisa 9″.
No entanto, houve um período nesta temporada que dará confiança a Mbappé e aos torcedores do Real Madrid de que ele pode recuperar sua melhor forma. Depois de não marcar gols em suas três primeiras partidas em La Liga, Mbappé emplacou uma sequência de seis gols em cinco jogos no torneio local e na Champions League.
Embora os gols tenham diminuído desde então — registrando apenas quatro nos últimos 12 confrontos — o Real venceu todas aquelas cinco partidas, enfatizando ainda mais o quão importante um Mbappé em plena forma será para este time.
“Ele provavelmente era um dos melhores jogadores do Real Madrid naquela época”, diz Barlow. “Ele ainda jogava pelo meio, mas inclinando-se para a esquerda. Vinicius e ele se alternavam, e acho que é provavelmente isso que Ancelotti acabará buscando, que haja uma relação bastante fluida entre o centro e o lado esquerdo com Vinicius e Mbappé, e é importante garantir que isso funcione”.
Mesmo quando jogava ao lado de Lionel Messi e Neymar no PSG, Mbappé era inequivocamente sempre o protagonista. Também não demorou muito após sua estreia pela França para ficar óbvio que ele era a estrela da seleção nacional. Ao chegar ao Real, no entanto, Mbappé pela primeira vez seria coadjuvante. Os merengues já tinham sua própria superestrela: Vinicius Júnior.
A linguagem corporal de Mbappé às vezes tem projetado dúvida; ombros caídos e cabeça baixa, muito diferente da suprema confiança com que ele desfilava em campo em Paris. Mas ele sempre foi o jogador para quem todos no clube, dos donos qataris aos torcedores, olhavam enquanto ele tentava levar o PSG à terra prometida de um título da Champions.
No Real Madrid, ele chegou a um time que “não precisa dele, entre aspas”, diz Barlow, uma vez que o time venceu LaLiga e a Champions League na temporada passada. “Os jogadores sabem que são bons o suficiente sem ele”.
“Acho que a ideia era que Mbappé chegasse, mantivesse um perfil baixo, trabalhasse duro, fizesse seu trabalho e fosse para casa”, acrescenta Barlow. “Mas isso talvez tenha contribuído para essa falta de personalidade [que ele tem mostrado no Real]”.
“Mbappé provavelmente precisa ser o protagonista neste momento, ele precisa que seu ego seja alimentado — não de uma maneira ruim, todos os jogadores estrelas precisam — mas isso talvez o tenha prejudicado um pouco. Essa é a espiral de confiança em que você vê um jogador que está menos seguro de si mesmo, perdendo chances que teria convertido no passado”.
“Essencialmente, muitas das bases, muitas das certezas dele foram tiradas em termos de ser um jogador estrela, o jogador para quem as pessoas olham, a pessoa que as pessoas mais respeitam no vestiário, e todos esses diferentes fatores, eu acredito, se combinaram para dar a Mbappé uma plataforma muito instável ou oscilante para se apresentar.”
Fonte: CNN Brasil