A água condensada pelo ar-condicionado pode ser reutilizada de forma sustentável e econômica. Descubra maneiras criativas e práticas de aproveitar esse recurso.
No Brasil, onde o clima quente predomina, o uso de ar-condicionado vem crescendo aceleradamente a cada ano que passa. Atualmente, existem cerca de 36 milhões de unidades instaladas, mas até 2050, esse número deve saltar para impressionantes 160 milhões, representando um aumento de quase 350%.
A projeção, divulgada pela Agência Internacional de Energia (AIE), considera apenas o impacto do crescimento do PIB. No mundo, o cenário também é numeroso, com o total de aparelhos subindo de 2 bilhões para 5,5 bilhões de aparelhos instalados no mesmo período.
Durante os meses quentes de verão, os aparelhos de ar-condicionado se tornam aliados indispensáveis no combate ao calor.
No entanto, muitos não percebem que, além de resfriar os ambientes, eles também produzem um subproduto valioso: água.
O líquido que goteja do dreno do ar-condicionado pode parecer algo sem valor, mas seu potencial para reutilização é muitto surpreendente. Vamos explorar como essa água é gerada, suas propriedades e como aproveitá-la de maneira eficaz.
Por que sai água do ar-condicionado?
O funcionamento do ar-condicionado é baseado em processos físicos e químicos que envolvem o resfriamento do ar interno.
O fluido refrigerante presente no aparelho absorve o calor do ambiente através de uma unidade chamada evaporador.
Durante esse processo, o ar quente se resfria e a umidade relativa aumenta, até atingir o ponto de orvalho.
Nesse momento, o vapor d’água presente no ar se condensa, formando pequenas gotículas que se acumulam na base do evaporador. Essa água, que não tem utilidade direta para o funcionamento do aparelho, é eliminada pelo dreno.
A água é potável?
A resposta curta é não. Embora a água que sai do ar-condicionado seja tecnicamente “pura” por se originar do vapor d’água condensado, ela não é segura para o consumo humano ou animal.
Durante sua passagem pelo sistema do ar-condicionado, a água entra em contato com filtros, bandejas coletoras e mangueiras que podem conter poeira, bactérias e outros contaminantes.
Estudos confirmam que essa água é imprópria para beber, mas pode ser utilizada de forma segura em diversas atividades não potáveis.
Estudo da UFPB comprova o potencial
Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) realizaram um estudo entre 2018 e 2020 que apontou que a água gerada por aparelhos de ar-condicionado pode ser utilizada para fins como lavagem de pisos, rega de plantas e descarga em vasos sanitários.
A análise da água coletada mostrou que seus parâmetros estão em conformidade com a norma NBR 16.783/2019, que regula o uso de fontes alternativas de água.
Isso significa que, com tratamentos simples como filtração e cloração, ela pode ser segura para usos que não envolvam o consumo humano.
Os pesquisadores observaram também que o volume de água gerada varia conforme a potência dos aparelhos.
Por exemplo, aparelhos de 7.500 BTUs produzem cerca de 0,20 litros por hora, enquanto modelos maiores, de 80.000 BTUs, podem gerar até 6,81 litros por hora. Essa quantidade pode parecer pequena, mas, acumulada ao longo de dias ou semanas, representa um volume significativo.
Como reutilizar a água do Ar-Condicionado
A água do ar-condicionado pode ser usada de diversas formas práticas e sustentáveis. Aqui estão algumas ideias:
Jardinagem: Use a água para regar plantas que não necessitam de água potável, como jardins ou mini-hortas.
Limpeza: É uma opção excelente para lavar pisos, quintais ou até mesmo utensílios que não entram em contato direto com alimentos.
Reservatórios: Desvie a tubulação do dreno para uma caixa d’água ou cisterna, e utilize essa água para abastecer regadores, mangueiras ou reservatórios menores.
Manutenção de Veículos: A água é útil para abastecer o reservatório de limpadores de para-brisa ou para lavar o carro.
Em Pernambuco, a Lei 16.584/19 já regulamenta o uso de água condensada de sistemas de ar-condicionado em prédios públicos e privados. A legislação exige que a água seja captada e reutilizada para atividades não potáveis. Em Recife, alguns shoppings e lojas de materiais de construção já adotam essa prática, contribuindo para a conservação dos recursos hídricos.
O contexto sustentável
Em um mundo onde a busca por soluções sustentáveis é cada vez mais urgente, o reaproveitamento da água do ar-condicionado representa uma alternativa viável e eficiente.
A água condensada, que antes era descartada sem qualquer uso, agora pode ser uma aliada na economia de recursos naturais.
Um exemplo claro é o uso da água em regiões com escassez hídrica, onde cada litro poupado faz diferença.
Essa prática também está alinhada com iniciativas globais de sustentabilidade, como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU, que incentivam a gestão responsável da água e outros recursos naturais.
Pequenas mudanças, como instalar sistemas de captação em edifícios residenciais e comerciais, podem ter um impacto significativo no longo prazo.
Cuidados necessários ao reutilizar
Apesar do potencial de reaproveitamento, é essencial adotar medidas de segurança ao manusear a água do ar-condicionado. Certifique-se de que os sistemas de coleta estejam limpos e bem mantidos, evitando o acúmulo de sujeira ou proliferação de bactérias.
Além disso, nunca use essa água em aplicações que envolvam consumo humano, como preparação de alimentos ou hidratação de pessoas e animais.
Em uma casa comum, a água do ar-condicionado pode ser armazenada em um balde e utilizada para regar plantas diariamente.
Já em condomínios ou edifícios comerciais, sistemas maiores podem redirecionar a água para cisternas, que podem servir para diversas atividades, como limpeza de áreas comuns ou rega de jardins.
A ideia de reaproveitar água do ar-condicionado pode parecer pequena, mas ela exemplifica como recursos simples, muitas vezes ignorados, podem fazer uma grande diferença.
Com a conscientização crescente sobre sustentabilidade e economia de água, transformar o “desperdício” em solução é um passo à frente na conservação do meio ambiente.
Fonte: CPG