Thayla Hendyo Pereira de Motta, de 26 anos, é encontrada em Lisboa, Portugal. Brasileira estava desaparecida desde dezembro de 2024 — Foto: Reprodução/Acervo pessoal |
Thayla Hendyo Pereira de Motta, estudante brasileira de 26 anos que estava desaparecida desde 15 de dezembro em Portugal, foi encontrada neste sábado (25) em Lisboa. Thayla foi encontrada pela polícia portuguesa na Estação de Ônibus Sete Rios, ao Norte de Lisboa. A estudante da Universidade de Aveiro foi encaminhada para a delegacia da polícia de Campolide e encaminhada ao Hospital Universitário de Santa Maria. Ela estava aparecida desde 15 de dezembro do ano passado.
A polícia acionou outra brasileira que reside em Lisboa e organizou buscas ao longo de uma semana para encontrar Thayla desde segunda-feira (20). Esta mulher não quer ter o nome divulgado. Ela atualizava o estado das buscas em tempo real desde segunda-feira (20) em um grupo de WhatsApp com familiares e amigos, do qual Marie Claire faz parte. Também mobilizou outras pessoas para buscá-la em regiões onde pessoas afirmaram tê-la visto.
Devido ao estado de fragilidade da brasileira, a polícia de Portugal acionou uma ambulância para que Thayla receba atendimento médico. Ela foi convencida a aceitar ficar em um hospital. A mulher que organizou as buscas acompanha Thayla e afirma que ela está agitada e com medo e precisa ver uma pessoa conhecida para conseguir se acalmar.
Marie Claire participou de uma chamada de vídeo com a mulher que acompanhou Thayla durante a abordagem policial. "Ela passou mais de 40 dias na rua e está muito confusa, chorou muito e está muito desconfiada. Estava em um estado grande de desidratação e com muita fome. No primeiro momento, não quis ser acompanhada pela polícia, mas a agente foi muito atenciosa e comprou comida para ela. Ela sente que as pessoas não gostam dela, parece estar envergonhada", diz ela.
"Ela não sabe dizer onde e quando desapareceu. Thayla foi encaminhada de ambulância escoltada pela polícia para o hospital, onde vai tomar medicação e ficar até identificarem que a sanidade mental dela está estável. Agora, ela deve ficar em observação por uma pessoa conhecida para que não volte para as ruas", acrescentou.
Thayla apareceu em uma chamada de vídeo e conversou com Dhembla Araújo, uma de suas irmãs. "Fiz uma breve chamada de vídeo com ela, mas ela não me reconheceu. Tinha um homem junto com ela, mas fugiu. Não sabemos qual era a relação dos dois", diz a irmã à reportagem. "Ela não conheceu ninguém. Depois de conversarmos brevemente, ela pediu para tirar a câmera da frente e não quis mais falar", afirma. Dhembla diz ainda que Thayla estava vivendo como andarilha na capital portuguesa e que está "irreconhecível". "Está triste de ver, nada parecido com as fotos dela", lamenta.
Thayla Hendyo Pereira de Motta, de 26 anos, é encontrada em Lisboa, Portugal; imagem feita por brasileira que organizou buscas por uma semana — Foto: Reprodução/Acervo pessoal |
Agora, a família organiza uma vaquinha on-line para conseguir custear o retorno de Thayla ao Brasil. Originalmente, o valor estava sendo arrecadado para que um membro da família pudesse ir à Portugal para tentar localizar a estudante. É possível doar pela chave Pix 5308886@vakinha.com.br ou neste link.
Vaquinha feita por família de Thayla — Foto: Reprodução |
Marie Claire contatou a contatou o Núcleo de Sistemas e Informações e Comunicações da Polícia de Lisboa para ter informações sobre qual procedimento será seguido. Também contatou o Consulado-Geral do Brasil em Porto para saber quais providências serão tomadas.
Moradora de Guará, no Distrito Federal, Thayla foi encontrada por uma conhecida brasileira de uma amiga, que prefere não ter o nome divulgado. Ela tentava se abrigar da chuva em uma área da Estação Ferroviária de Lisboa - Oriente. Esta mulher decidiu apoiar as buscas após um homem afirmar que a viu na região, nos comentários de uma página de Instagram para brasileiros morando em Portugal que postou uma foto da estudante. A Estação Oriente é uma das conexões ferroviárias mais importantes da capital portuguesa e, nos últimos meses, tornou-se ponto frequentado por pessoas em situação de rua.
Thayla estava matriculada na Universidade de Aveiro, na costa oeste de Portugal, como bolsista e cursava Línguas, Literaturas e Cultura. Ela teve problemas financeiros durante a estadia no país. Também afirmou a colegas e amigos que não estava se adaptando bem à cidade (relembre detalhes do caso mais abaixo).
Como foram as buscas por brasileira desaparecida em Portugal
As buscas iniciadas na madrugada do dia 21 (ainda noite do dia 20 no Brasil) e atualizada no grupo de WhatsApp chamado "Onde está Thayla?". Desde 8 de janeiro, eles trocam informações sobre o possível paradeiro da brasileira.
Após divulgação da imprensa brasileira e portuguesa e de perfis no Instagram para brasileiros em Portugal, outras pessoas passaram a enviar mensagens a familiares e amigos para reportar que tinham visto Thayla. Os primeiros relatos indicavam que Thayla estava próxima do Oceanário de Lisboa e que dormia na Estação Ferroviária Oriente, importante ponto de conexão em Lisboa. A Estação Oriente também se tornou um ponto de apoio para pessoas em situação de rua na cidade.
Por lá, ela foi vista por lojistas e outras pessoas em situação de rua. Por meio dos relatos, a brasileira que realizou as buscas passou a refazer os passos de Thayla, inclusive contatando organizações voluntárias que distribuem comida nas ruas e afirmam que, pontualmente, distribuíam água e comida a ela, sempre no período noturno.
Buscas por brasileira foram organizadas em grupo de WhatsApp
A brasileira foi encontrada graças a esforços de conhecidos, e afirmam que tanto a polícia portuguesa quanto autoridades do Brasil – como Itamaraty e Consulado-Geral do Brasil em Porto – trataram o caso com “descaso”.
Outros brasileiros residentes em Portugal afirmam ter abordado policiais para compreender qual procedimento era realizado no caso de pessoas adultas desaparecidas. Eles teriam afirmado que foram notificados hospitais e instalações de reabilitação caso Thayla desse entrada. No entanto, também teriam afirmado que “não a sairiam procurando na rua” e que ela poderia ter “desaparecido por interesse próprio”. A polícia trabalhou com essa hipótese porque não há indícios de crime e porque Thayla é maior de idade.
A polícia teria se recusado a realizar a ocorrência de desaparecimento. Amiga de Thayla, Caroline Lisboa reside na Irlanda, mas a mãe vive em Portugal, e foi quem se disponibilizou a fazer o boletim de ocorrência na delegacia de Cascais. Mas, segundo Caroline, policiais não queriam fazer o registro de desaparecimento.
"Alegaram que não tinha evidências de criminalidade, que ela poderia ter desaparecido por conta própria e que minha mãe não tinha vínculo com ela, portanto não poderia registrar o boletim", afirma. No entanto, Caroline teve ajuda de um conhecido que trabalha na polícia portuguesa, que as orientou a registrar queixa a uma espécie de corregedoria da polícia de Portugal.
"Os policiais gritaram com ela, disseram que ela estava os ameaçando. Foi só quando ameaçamos fazer uma reclamação e passamos informações deste policial que aceitaram fazer o registro. Minha mãe falou que tremeu de medo", diz Caroline. Marie Claire questionou a polícia sobre esta conduta, mas não teve resposta.
Entenda o caso
Em dezembro, Thayla esvaziou seu alojamento na universidade após dificuldade para custear a mensalidade do quarto e não esteve mais em Aveiro. O preço do alojamento para estudantes internacionais é de € 180 (R$ 1.114,20 na cotação atual) por mês, mais custos de alimentação e propinas, que podem chegar a € 4 mil (R$ 24.760) por ano. A permanência no lugar foi rescindida por falta de pagamento, mas a Universidade de Aveiro confirmou a Marie Claire que a matrícula dela constava em aberto.
Thayla avisou aos amigos que estava dormindo no Terminal Rodoviário de Campanhã, em Porto, com todos os pertences, incluindo as malas. A informação consta também em um boletim de ocorrência registrado na polícia portuguesa, na Divisão de Cascais, em 7 de janeiro.
Para Marie Claire, Valdemar Junior, amigo de Thayla que vive no Brasil, acredita ter sido uma das últimas pessoas a conversar com a brasileira antes dela desaparecer. Do Brasil, ele tentava encontrar formas de trazê-la de volta para casa.
"Em novembro, ela me disse que estava passando muita dificuldade e queria vir para casa. Não conseguia arrumar emprego como professora de inglês e, por telefone, me confessou que tinha saído do dormitório e ia dormir na rodoviária", contou à reportagem.
Últimas conversas de Valdemar Junior com Thayla Hendyo Pereira de Motta — Foto: Reprodução/Acervo pessoal |
Um colega de Thayla na Universidade de Aveiro, Daniel Januí, afirmou que ela mantinha uma postura que parecia "ansiosa e insegura". "Thayla disse que não estava se sentindo à vontade na universidade." Ele afirmou ainda que acredita tê-la visto em Aveiro pouco antes de seu desaparecimento em frente ao Fórum, um shopping da cidade, e que o comportamento dela era "desconexo". A última vez que Thayla respondeu Daniel no WhatsApp foi em 6 de dezembro.
Conversas de Daniel Januí com Thayla Hendyo Pereira de Motta — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal |
Conversas de Daniel Januí com Thayla Hendyo Pereira de Motta — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal |
Conversas de Daniel Januí com Thayla Hendyo Pereira de Motta — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal |
Dhembla e Lindalva Pereira, mãe de Thayla, afirmaram que não tinham conhecimento da ida de Thayla para Portugal até sua chegada no país, em 8 de outubro de 2024. Ela teria conseguido viajar com a ajuda financeira de amigos e de uma ex-chefe, com quem trabalhava em um restaurante em Brasília.
"A Thayla demora mesmo para responder mensagens, então achei normal. Mas depois foi demorando demais e comecei a estranhar”, disse Dhembla para Marie Claire. O último contato dela com a irmã foi em 10 de novembro, para desejar boa sorte a Dhembla no ENEM.
Fonte: Marie Claire