Em alguns Estados norte-americanos, segundo a imprensa local, as prateleiras ficaram vazias no início de 2025. Reportagem conversou com especialistas do setor sobre possíveis reflexos e oportunidades ao ES; confira
Noticiário dos EUA destaca aumento no preço do ovo. (Arte | Haelly Dragnev) |
Consumir e produzir ovos podem se tornar desafios nos Estados Unidos durante o ano de 2025. O alimento, que é um dos mais versáteis da culinária mundial, servido do café da manhã até o jantar, enfrenta uma crise no país norte-americano.
A inflação e o aumento dos casos de gripe aviária ameaçam o preço do produto, que pode aumentar até 20%, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos. Em alguns Estados, segundo a imprensa local, as prateleiras ficaram vazias no início do ano. Os números não mentem: o ovo é uma das "meninas dos olhos" da economia do Espírito Santo. Mas será que o capixaba pode ser afetado pela situação vista nos Estados Unidos?
A cidade de Santa Maria de Jetibá, na região Serrana do Espírito Santo, é considerada a capital do ovo no Brasil. Quem chega ao município entende a importância da atuação dos avicultores. A criação de aves poedeiras gera milhares de empregos no Estado e põe comida no prato de muita gente ao redor do Brasil. Em Santa Maria de Jetibá, existe, inclusive, uma estátua de uma galinha às margens da BR 262, em referência à produção do município.
Estátua de galinha com ovos foi encomendada pela Prefeitura de Santa Maria de Jetibá e ficou pronta em 2020. (Divulgação | Prefeitura de Santa Maria de Jetibá) |
O ovo é, portanto, alimento e fonte de renda em todo o mundo. Nos Estados Unidos, porém, a situação não é favorável. A imprensa local detalha que o preço médio pago por uma dúzia nos Estados Unidos atingiu US$ 4,15 em dezembro. Não é tão alto quanto o recorde de US$ 4,82 estabelecido há dois anos, mas o Departamento de Agricultura prevê que os preços subam mais 20% este ano.
O que acontece nos Estados Unidos?
Jornais destacam que Iowa e Califórnia são os Estados mais afetados pelos casos de gripe aviária. Em anos anteriores, o Espírito Santo também registrou casos da doença, mas não a ponto de interromper a produção de ovos.
A chance de pegar gripe aviária por meio de alimentos preparados de forma adequada é pequena. No caso dos ovos, a Food and Drug Administration, dos Estados Unidos, informa que é improvável que haja contaminação dos produtos que chegam aos supermercados. Apesar do baixo risco, os ovos são produzidos por galinhas - estas, sim, são vítimas frequentes da gripe aviária. Animais morrem em decorrência dos surtos, o que impacta diretamente na produção de alimentos como ovos.
Além da gripe aviária, outro fator preocupa: a inflação. De acordo com a CNN Business, veículo dos Estados Unidos, alimentos como carne bovina, café e suco de laranja também sofrerão com aumento de preços, mas em decorrência de eventos extremos climáticos. O que chama mais atenção, no entanto, é o aumento do preço dos ovos. Nas redes sociais, norte-americanos repercutiram o aumento do preço dos ovos.
Em vídeos publicados no TikTok, por exemplo, cidadãos mostram os valores pagos e chegam a usar a situação como argumento contra o recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. "Trump fez isso", dizia uma espécie de desenho ao lado do preço, com a imagem da ex-vice-presidente Kamala Harris, em referência ao aumento do preço dos ovos.
O Espírito Santo corre risco?
De acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o brasileiro consome, em média, 242 ovos por ano. Os dados da associação indicam que o Brasil é o 5º maior produtor de ovos do mundo. No Espírito Santo, segundo a Secretaria de Estado da Agricultura, a atividade gera cerca de 25 mil empregos, que contribuem com a geração de renda para mais de 100 mil famílias.
A Gazeta procurou especialistas para entender se a crise enfrentada por produtores e consumidores nos Estados Unidos pode afetar o bolso do capixaba. A reportagem apurou que, considerando a relevância e imponência da produção de ovos no Espírito Santo, não há risco de desabastecimento ou aumento repentino dos preços.
O diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES), Nélio Hand, explica que a maior parte da produção do Estado é consumida no mercado interno. Isso significa que as mudanças ocorridas no país norte-americano não devem mexer com o panorama no Espírito Santo.
O que acontece nos Estados Unidos não deve causar interferência no Brasil ou no Espírito Santo. Isso porque não há importação de ovos para o Brasil. E a exportação, o que sai do Espírito Santo para os Estados Unidos, é muito pequena. O mercado dos EUA é independente, e o mercado do Espírito Santo também
Nélio Hand•Diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES)
Na avaliação de Nélio Hand, a produção de ovos em 2025 no Espírito Santo deve ocorrer de forma "tranquila" e há expectativa de crescimento do setor. Entre os meses de janeiro de 2024 e 2025, o preço médio de uma caixa com 30 dúzias variou entre R$ 125 e R$ 173. O levantamento é feito pela Aves. O valor é recebido pelo produtor rural na granja. O preço não indica o valor escolhido para a venda em supermercados, por exemplo.
Sobre o assunto, o superintendente da Associação Capixaba de Supermercados (ACAPS), Hélio Schneider, explicou que o mercado de ovos está "normal" no Espírito Santo, ou seja, a gripe aviária e a inflação, fatores relevantes nos Estados Unidos, não são impactantes o suficiente no Estado. Hélio Schneider ressaltou o expressivo volume de ovos produzidos o Estado.
"Temos uma grande vantagem, o Estado é um dos grandes produtores de ovos. Somos um dos maiores do Brasil. Dificilmente vamos ter esse impacto. Não vejo essa preocupação", afirma o superintendente da Acaps.
Procurada por A Gazeta, a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) avalia que "não são esperados efeitos da situação da produção de ovos dos EUA sobre o setor produtor de ovos do Brasil". De acordo com a situação, o Brasil exporta ovos para os EUA apenas para produção pet food (ração pet). "Situações ocorrentes na produção de ovos de outros países tendem a ter efeito reduzido/nulo sobre o mercado brasileiro", informou em nota.
Crise nos EUA pode abrir brecha para o ES?
Além de buscar entender o possível impacto no Espírito Santo das mudanças nos Estados Unidos, A Gazeta também perguntou se a situação na América do Norte poderia abrir uma brecha para o Brasil. Para o diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES), Nélio Hand, a situação pode ser considerada uma oportunidade.
A crise nos EUA pode abrir alguma possibilidade de exportação dos ovos. Mas não é simples assim. Para um Estado ou país exportar, precisa cumprir muitos requisitos, precisa ter um registro junto ao Ministério da Agricultura. No médio ou longo prazo, pode se tornar uma oportunidade
Nélio Hand•Diretor-executivo da Associação dos Avicultores do Estado do Espírito Santo (AVES)
Preocupação com gripe aviária
Apesar do baixo risco de impacto da gripe aviária no Espírito Santo, os especialistas consultados por A Gazeta concordam: ainda há certa preocupação com a doença. O aumento de casos da doença no Estado poderia representar um risco à produção - o que não está acontecendo atualmente.
"A gripe aviária preocupa no Espírito Santo, até por isso o setor está em constante alerta. Apesar da preocupação, não é ao ponto de provocar custos maiores para o consumidor", afirma Nélio Hand.
"No caso dos ovos, não deve haver impacto. Mas a gripe aviária pode significar um problema para a carne de frango", afirma Hélio Schneider.
Nélio Hand e Hélio Schneider fazem jus à máxima de que "prevenir é melhor do que remediar". Ainda que não haja perigo imediato, o risco não é descartado.
Gripe aviária e inflação | Entenda
A gripe aviária é uma infecção viral altamente contagiosa que afeta aves, mas também pode infectar mamíferos, incluindo humanos. Causada por vírus da família Influenza A, os subtipos mais preocupantes são H5N1 e H7N9, devido ao seu potencial pandêmico. A transmissão ocorre principalmente pelo contato com aves infectadas, secreções ou superfícies contaminadas. A prevenção inclui vigilância sanitária, controle de surtos e, em alguns casos, vacinas específicas.
Inflação é o aumento generalizado e contínuo dos preços de bens e serviços em uma economia ao longo do tempo. Ela reduz o poder de compra do dinheiro, tornando os produtos mais caros. Pode ser causada pelo aumento da demanda, custos de produção elevados ou excesso de dinheiro em circulação. O controle é feito por meio de políticas econômicas, como ajustes na taxa de juros e controle da oferta monetária.
Fonte: A Gazeta