O filho de Luiz Cláudio Dias, de 59 anos, disse que o pai já havia apresentado crises de hipoglicemia, que foram controladas com remédio
Paciente em surto é morto após fazer enfermeira de refém em UTI — Foto: Reprodução
O paciente Luiz Cláudio Dias, de 59 anos, foi morto com um tiro pela Polícia Militar após fazer uma enfermeira refém durante um surto psicótico que teve. Ele estava internado há três dias em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Municipal de Morrinhos, no sul de Goiás, onde fazia tratamento renal. Ao GLOBO, o filho da vítima afirmou que houve negligência hospitalar e policial, tendo em vista que Luiz Cláudio estava com saúde debilitada e desorientado.
O caso aconteceu no último sábado (18). Um vídeo mostra o momento em que Luiz Cláudio abraça a enfermeira pelas costas e a ameaça com um pedaço de vidro. Em um momento em que a profissional da saúde consegue afastar o braço do paciente, o policial militar que tentava mediar a situação disparou contra o homem.
— Meu pai era um paciente debilitado e diabético. Ele teve um crise de hipoglicemia, que é quando falta glicose no sangue e o cérebro não recebe oxigênio, aí ele ficava desorientado. Mas, primeiramente, o correto era a equipe médica ter percebido isso e ministrado algum remédio. Como ele conseguiu levantar, ir até o banheiro e pegar um caco de vidro? Não houve segurança do paciente. Ele não surtou porque quis — defendeu Luiz Henrique Dias, filho do paciente. — A polícia também vai matar todo paciente em surto? Poderia ter usado arma de choque, por exemplo — completou.
Paciente já havia tido surtos
Luiz Cláudio fazia hemodiálise há 24 anos pra tratar da doença renal crônica causada pela diabetes. Ele era cego de um olho e tinha apenas 60% de visão no outro. Segundo o filho da vítima, ele já havia apresentado esse tipo de surto em casa, por conta da hipoglicemia — uma alteração no nível de açúcar presente na circulação sanguínea —, e era contido com facilidade pelos familiares, que ministravam o remédio necessário.
— Eu quero justiça. Eu sei que a profissional estava em risco, mas ele não surtou porque quis. Houve negligência do hospital e da polícia. Quando ele tinha esses surtos, a gente segurava ele e dava glicose na boca dele. Meu pai era um homem que lutava há anos pela sua saúde — desabafa Luiz Henrique.
Ação policial
Em nota, a PM afirmou que protocolos de gerenciamento de crises foram aplicados para tentar liberar a enfermeira. Como as tentativas não funcionaram, foi necessária a realização de um disparo contra o paciente para resguardar a vida da refém. O tiro, segundo o coronel Werik Ramos, era para ter atingido a perna de Luiz Cláudio, mas ele se curvou e acabou perfurando a região do abdome.
Ainda segundo o comunicado, "mesmo alvejado, o autor continuou resistindo, sendo necessária a sua contenção pelos demais policiais militares". A informação, no entanto, é contestada pelos familiares da vítima. Em vídeos que circulam nas redes sociais, é possível ver que após ser baleado, Luiz Cláudio cai no chão e não reage. Mesmo assim, dois agentes se aproximam e pisam nele para imobilizá-lo.
Um procedimento administrativo foi instaurado para apurar os fatos.
Fonte: O Globo