Estratégia também quer pôr mais pressão sobre o Irã e a Venezuela, embora esta última seja uma questão mais complexa devido à presença da petroleira americana Chevron no país
Presidente eleito dos EUA, Donald Trump disse que vai ampliar extração de petróleo nos EUA, que já é o maior produtor global, para reduzir custos de energia — Foto: Christopher Dilts/Bloomberg
Assessores do presidente eleito Donald Trump estão desenvolvendo uma estratégia ampla de sanções para facilitar um acordo diplomático entre Rússia e Ucrânia nos próximos meses, enquanto pressionam Irã e Venezuela, segundo fontes próximas ao assunto. A administração de Joe Biden impôs na sexta-feira as sanções mais disruptivas ao comércio de petróleo da Rússia já aplicadas por um poder ocidental. Isso levanta dúvidas sobre como Trump vê essas medidas, considerando sua promessa de encerrar rapidamente a guerra na Ucrânia.
A equipe de Trump está considerando duas abordagens principais. Uma envolve medidas de boa-fé para beneficiar produtores de petróleo russos sancionados, caso se acredite que a resolução da guerra esteja próxima, disseram as fontes sob anonimato. Outra opção seria intensificar as sanções, aumentando a pressão para reforçar o poder de negociação.
Scott Bessent, indicado por Trump para o cargo de secretário do Tesouro, afirmou na quinta-feira que apoia o aumento das sanções à indústria petrolífera russa para acabar com a guerra na Ucrânia.
— Eu estarei 100% a favor de aumentar as sanções, especialmente contra grandes empresas petrolíferas russas — disse ele em audiência no Senado.
Ele criticou os esforços atuais, afirmando que o governo Biden evitou medidas mais severas para controlar os preços de energia em época eleitoral.
Os planos da equipe de Trump ainda estão em estágio inicial e dependem do próprio presidente eleito, disseram as fontes. Na semana passada, Trump mencionou a preparação de um encontro com o presidente russo, Vladimir Putin, aumentando as expectativas de negociações para encerrar a guerra.
As discussões estratégicas incluem indicados de Trump para o Gabinete, ex-funcionários de sanções de sua administração anterior e vários grupos de reflexão conservadores. O time de transição ainda não anunciou nomes para alguns cargos importantes na área econômica.
Entre as questões pendentes está a permanência de Brad Smith e Andrea Gacki, veteranos do Departamento do Tesouro, em cargos de liderança.
Os assessores de Trump enfrentarão o mesmo dilema da administração Biden: evitar grandes interrupções no mercado de petróleo, enquanto Washington mantém sanções extensivas a três dos maiores produtores globais. Outro desafio será equilibrar o uso das sanções com a preservação do status do dólar como moeda de reserva global.
Porta-vozes da equipe de transição de Trump não responderam a um pedido de comentário por e-mail.
Sanções secundárias
Um indicativo inicial de como Trump lidará com as sanções virá em março, quando expira uma licença geral que permite a redução gradual de compras de produtos energéticos russos. Caso o Departamento do Tesouro não renove a licença, a pressão sobre o Kremlin pode aumentar.
Na quarta-feira, autoridades introduziram medidas para dificultar que Trump suspenda unilateralmente algumas sanções à Rússia. Entidades foram redesignadas, exigindo notificação ao Congresso para suspensões, o que pode gerar votos de desaprovação.
Uma política mais agressiva pode incluir maior aplicação de sanções secundárias no comércio de petróleo, penalizando transportadoras europeias e compradores asiáticos, como grandes empresas na China e Índia. Outra abordagem seria intensificar o controle sobre petroleiros que transportam petróleo russo por pontos estratégicos na Dinamarca e Turquia.
Já uma abordagem mais branda poderia envolver a emissão de licenças gerais e o aumento do teto de preços acima de US$ 60 por barril, incentivando o fluxo contínuo do petróleo russo para o mercado.
Na audiência de confirmação de Marco Rubio como secretário de Estado, ele destacou que as sanções são uma ferramenta essencial para uma resolução pacífica.
Irã e Venezuela
A equipe de Trump também está avaliando opções políticas para Irã e Venezuela. Há consenso geral entre os principais assessores para retomar uma estratégia de pressão máxima contra o Irã, começando com um grande pacote de sanções ao setor petrolífero, possivelmente já em fevereiro. Na primeira gestão de Trump, essa abordagem reduziu significativamente as exportações de petróleo iraniano, embora tenham aumentado sob Biden.
No caso da Venezuela, a situação é mais complexa. Nicolás Maduro iniciou um novo mandato em meio a evidências de fraude eleitoral, enquanto empresas americanas, como a Chevron, mantêm operações no país.
Maduro sobreviveu à estratégia de pressão máxima da administração Trump e a esforços de Biden para promover eleições livres. Mauricio Claver-Carone, um influente assessor da primeira gestão de Trump, retornará a um papel de destaque na política para a América Latina. A ideia é restaurar a postura agressiva de 2019, quando os EUA deixaram de reconhecer Maduro como presidente legítimo da Venezuela, disseram as fontes.
Fonte: O Globo