O ciúme excessivo, quase paranoico, não é uma novidade ou exclusividade vivida apenas por mulheres, mas o assunto viralizou entre elas recentemente nas redes sociais, principalmente no TikTok
O termo viralizou nas redes sociais e fala sobre o ciúme excessivo relacionado à vida amorosa pregressa da pessoa — Foto: Shutterstock
A curiosidade sobre a vida pregressa de antigos amores de seus companheiros, em níveis quase obsessivos, é comum para a analista de licitação Luiza Dias, de 36 anos. Ainda que se considere uma mulher bonita, independente e cheia de vida, ela vive relacionamentos atormentados pela insegurança. “Em um deles, meu ex disse, quando começamos a nos envolver, que ainda gostava de outra namorada. Isso foi muito prejudicial, porque comecei a ‘stalkear’ a menina”, relembra Luiza. “Queria saber o que ela fazia, onde malhava, quem eram os amigos e o seu gosto musical, como se eu tivesse interessada em conhecê-la e entender o motivo de ele ter se apaixonado pela ex”, conta a analista.
A analista de licitação Luiza Dias, de 36 anos — Foto: Arquivo pessoal
O ciúme excessivo, quase paranoico, não é uma novidade ou exclusividade vivida apenas por mulheres, mas o assunto viralizou entre elas recentemente nas redes sociais, principalmente no TikTok, e ganhou nome: Síndrome de Rebecca. A referência vem do livro da escritora britânica Daphne Du Maurier, “Rebecca”, inspiração para o filme “Rebecca, a mulher inesquecível” (1940) do mestre do suspense Alfred Hitchcock (1899-1980). Na trama, um viúvo se casa novamente, mas as constantes menções à ex-mulher, Rebecca, fazem com que a nova esposa fique cada vez mais insegura. Assim como Luiza. “Era visível o quanto era excessivo. Não dava atenção ao meu namorado para ter um relacionamento com ele. Era como se eu namorasse a ex dele”, analisa.
Denise Figueiredo, psicóloga especializada em casais, diz que a Síndrome de Rebecca prejudica o casal a ter a própria história. “O protagonismo da relação vira o outro, que nem está lá, ocupando a narrativa. O que o outro viveu, já foi, não há como controlar.” Para que a confiança possa ser criada, reforça a profissional, é essencial dar segurança ao parceiro e estabelecer limites, fortalecer o parceiro e mostrar que a escolha é viver a história atual, e não a passada. “Seja firme. Não tenha medo de dizer: ‘Isso é inegociável para mim, não vou falar mais sobre esse assunto’. Porque o passado é uma fonte inesgotável de inseguranças”, alerta Denise.
Cartaz do filme 'Rebecca, a mulher inesquecível' (1940) do mestre do suspense Alfred Hitchcock — Foto: Divulgação
Até por isso, Luiza, a personagem que inicia essa reportagem, ressalta que alguns companheiros tiveram sua parcela de culpa nessa dinâmica. “Tem caras que alimentam essa competição, falando coisas inapropriadas ou não encerrando ciclos”, afirma a analista de licitação. Depois de sofrer com relacionamentos repletos de comparações e dores, ela recorreu à terapia, e hoje entende o lugar que ocupa.
Vítima de perfis fakes criados pelo ex-namorado nas redes, a publicitária Chris Menezes, de 55 anos, teve o passado devassado. No início da relação, o sujeito agia como se fosse seu “dono”. O fato de ter saído com mais pessoas do que ele, que havia sido casado, era um grande problema. “Me sentia culpada pelas minhas experiências”, ela desabafa. No ambiente on-line, ele vigiava as interações dela com outros homens. “Uma vez, estava na casa dele e recebi um telefonema. Precisei fazer uma anotação e peguei um caderno qualquer. Naquelas páginas, descobri que ele anotava os nomes dos caras com quem eu falava e interagia nas redes: amigos, ex, qualquer homem.” Depois de dois anos, enfim, conseguiu colocar um ponto final na história.
A publicitária Chris Menezes, de 55 anos — Foto: Arquivo pessoal
Identificou-se com os relatos que leu aqui? Busque ajuda profissional para se fortalecer. “Para quem sofre com o problema, é comum ter um comportamento obsessivo, com pensamentos intrusivos e potencial de causar constrangimentos, sensação de invasão e perda do controle”, diz Adriana Mendonça, psicóloga especialista em casais e família. “Compreender as razões psicológicas do problema por meio de terapia é muito importante”, pontua. Afinal, nenhum fantasma deve assombrar um relacionamento.
Fonte: O Globo