Especialistas explicam que esses sonhos recorrentes podem manifestar os medos da vida atual
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Até adultos sonham com a escola ou faculdade — Foto: Freepik
"É o final do semestre. De repente, me dou conta de que há uma aula para a qual eu esqueci de ir e agora preciso fazer a prova final. Eu acordo em pânico, minha nota está em perigo. Como pude ter feito isso? Por que me saboto dessa maneira? Ahhh. É então que eu lembro que não frequento a universidade há mais de uma década”, relata a autora Kelly Conaboy em um texto para a revista The Atlantic.
Os sonhos, por vezes, podem ser esquecidos ao despertar; em outros momentos, é possível lembrar com detalhes o que se passou pela mente durante o estado de sonolência. No entanto, existem certos sonhos que se tornam recorrentes ou repetitivos, gerando confusão quanto ao seu significado. Sentir que está caindo no vazio, sonhar que está sendo perseguido ou que precisa fazer uma prova são alguns dos mais frequentes.
Inclusive, segundo o Typical Dream Questionnaire, os sonhos em que surgem situações relacionadas a fazer provas ou ir à escola/universidade estão entre os cinco mais recorrentes, junto com os de perseguição, quedas e os de teor sexual.
Durante séculos, as pessoas refletiram sobre o significado dos sonhos. Algumas civilizações chegaram a acreditar que eles mediavam o mundo terreno e o dos deuses. Os gregos e os romanos estavam convencidos de que os sonhos tinham poderes proféticos; por outro lado, os antigos egípcios os consideravam uma forma diferente de visão, chegando a ter “sonhadores treinados” que atuavam como videntes para auxiliar no planejamento de batalhas e na tomada de decisões estatais.
Para o psicólogo e psicoterapeuta Maxi McCoubrey, é fundamental entender que, em termos culturais, o sonho recebe uma interpretação que varia conforme a época, a cultura e o paradigma ao qual se está vinculado.
— Sempre tiveram um caráter significativo na história da humanidade — destaca.
No entanto, foi apenas no final do século XIX que Sigmund Freud e Carl Jung propuseram algumas das teorias modernas mais conhecidas sobre os sonhos. Para o pai da psicanálise (Freud), esse estado de sono revela um desejo reprimido, ou seja, sonhar permite identificar anseios não resolvidos.
— Com Freud, descobriu-se que os sonhos revelam, de maneira condensada e deslocada, algo oculto no inconsciente. A pessoa tenta elaborar – mesmo dormindo – o que a aflige ou angustia — explica McCoubrey.
Ele acrescenta que, atualmente, a neurociência comprovou que “o cérebro continua funcionando mesmo durante a fase do sono”, afirma.
William Dement, médico e professor da Universidade de Stanford, conhecido como o “pai da medicina do sono”, acredita que os sonhos contêm mensagens pessoais e estão ligados às emoções e ao estado de espírito de uma pessoa.
Em seu livro The Committee of Sleep, a autora e pesquisadora de sonhos da Universidade de Harvard, Deirdre Barrett, define os sonhos como “nosso cérebro pensando em um estado bioquímico muito diferente”. Dessa forma, segundo a especialista, quando alguém está sonhando, as áreas visuais e emocionais do cérebro tendem a estar mais ativas, enquanto as áreas verbais ficam menos ativas, e o raciocínio lógico linear se reduz drasticamente.
Quais os significados?
Para muitas pessoas, o tempo na escola foi repleto de ansiedade e medo. Assim, esses tipos de sonhos quando adultos podem refletir temores atuais da vida real. Grande parte dos estudantes sente pavor ao se apresentar para uma prova; por isso, não é incomum ouvir que alguém sonhou que chegou atrasado à escola, precisou fazer uma prova sem ter estudado ou reprovou numa avaliação.
— Os sonhos em que se deve fazer uma prova podem estar relacionados a situações nas quais a pessoa se sente insegura sobre seus recursos ou não sabe se será capaz de resolver algo — explica a psicóloga Ludmila Bosco.
De acordo com McCoubrey, quando esses sonhos se repetem, eles demandam a interpretação de duas maneiras: a primeira é sobre as imagens que aparecem no sonho e a segunda sobre como a pessoa relata essas imagens, ou seja, o discurso usado para recontá-las.
— É como se processasse o que foi vivido como se fosse uma obra de arte que mistura e funde passado e presente. Biologicamente, é uma atividade que aciona o sistema nervoso para descarregar emoções — destaca.
Bosco complementa dizendo que os sonhos repetitivos estão intimamente ligados ao inconsciente.
— Eles estão ali porque, às vezes, estão relacionados a temas conflituosos para o 'eu' – termo que se refere à parte consciente do indivíduo – e, como defesa, a psique os envia ao inconsciente — explica.
Ela acrescenta que, na psicanálise, temas traumáticos ou não elaborados voltam nos sonhos para se integrarem ao relato da vida atual. Especificamente, os sonhos com situações acadêmicas têm significado, mas não o mesmo para todos.
— Esse sentido é construído no espaço terapêutico com o relato do paciente e a interpretação do profissional — conclui.
Fonte: O Globo
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