Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a influência do fenômeno La Niña no clima é a grande responsável pelos tempestades, mas o aquecimento global também influencia esse cenário
As primeiras semanas do ano foram marcadas por chuvas e inundações em várias partes do País, como São Paulo, Santa Catarina, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Bahia e Pernambuco. Por trás disso, está a influência do fenômeno La Niña, que aumenta o risco de temporais em praticamente todo o Brasil, exceto o Rio Grande do Sul.
O aquecimento global também potencializa os eventos extremos, como tempestades, ondas de calor e série de incêndios, a exemplo das queimadas que devastaram a Califórnia no início do ano. O primeiro mês de 2025 foi o janeiro mais quente já registrado na história recente da Terra, conforme as medições do observatório europeu Copernicus.
O La Niña deve afetar o clima até abril, segundo as projeções mais atualizadas da Agência Americana de Oceanos e Atmosfera (NOAA, na sigla em inglês), dos Estados Unidos. Nos anos de La Niña, é comum o aumento da chuva nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste. O fenômeno estava previsto desde o ano passado, mas demorou a se formar, o que intrigou os cientistas.
O La Niña é caracterizado pelo resfriamento das águas no Oceano Pacífico Equatorial - o inverso do que é visto durante o El Niño. Ambos os fenômenos influenciam o clima de todo o planeta.

Mapa pluviométrico de janeiro: as áreas azuis mostram onde mais choveu no País durante o mês Credito: Inmet Foto: inmet
“As frentes frias passam mais rapidamente sobre a parte leste da Região Sul e levam mais chuvas para o Sudeste, podendo chegar até parte do litoral nordestino”, explica a meteorologista Danielle Ferreira, do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). “Esse comportamento nem sempre ocorre, pois é necessário considerar também outros fatores, como a temperatura do Oceano Atlântico, que também pode atenuar ou intensificar os impactos do fenômeno.”
Um dos Estados mais afetados foi São Paulo. Janeiro foi marcado por chuvas intensas e temperaturas acima da média na capital paulista. Conforme o Inmet, a estação meteorológica do Mirante de Santana, na zona norte, registrou acumulado de 332,7 mm de chuva – volume 13,9% acima da média histórica (1991-2020), que é de 292,2 mm.
O evento mais extremo ocorreu em 25 de janeiro, quando 144,1mm de chuva foram registrados em 24 horas, tornando-se o segundo maior volume já medido desde 1988. Naquele dia, as enxurradas alagaram ruas, estações de metrô e mataram um artista plástico de 73 anos em casa, na Vila Madalena, na zona oeste.
Além das fortes chuvas, o calor tem sido destaque. A média da temperatura máxima de janeiro foi de 29,5ºC - patamar 0,9ºC acima da média histórica. Neste mês, a previsão é de que a chuva continue intensa em São Paulo.
Em Minas Gerais, só no segundo fim de semana de janeiro foram registradas 11 mortes por conta das enxurradas e deslizamentos de terra, que também deixaram centenas de desabrigados. No Sul, Santa Catarina e Paraná foram afetados por temporais em janeiro e fevereiro, respectivamente.

No Jardim Pantanal, zona leste de São Paulo, moradores viram as casas serem tomadas pela enxurrada Foto: Andre Penner/AP
“Esse sistema de alta pressão atmosférica deve até enfraquecer por volta do dia 20 e 21 de fevereiro. Mesmo assim, a chance de passagem de uma frente fria pela costa do Rio de Janeiro com força suficiente para mudar o tempo é baixa”, afirma a meteorologista do Climatempo Aline Tochio. “Em outras palavras, a chance de voltar a chover com frequência no Rio e também no Espírito Santo, que está na mesma situação, vai permanecer baixa pelo menos até o dia 24 ou 25 de fevereiro.”
O Nordeste também registrou chuvas fortes nos últimos dias. Na Bahia, a chuva mais forte foi registrada em meados de janeiro, entre os dias 15 e 16, com alagamento de ruas, inundações de casas e prédios e enxurradas. Pelo menos 14 municípios decretaram situação de emergência e chegaram a receber ajuda humanitária.
Em Recife e outras cidades pernambucanas, fevereiro começou com grandes volumes de chuva que causaram sete mortes, inundações, deslizamentos de terra e desabamentos de casas.
Segundo o Inmet, fevereiro também será um mês bastante quente. Uma nova onda de calor se instala nesta quarta-feira, 12, em grande parte do País e deve se estender até sexta-feira, 14. O fenômeno deve atingir de modo mais intenso o Sudeste e o Nordeste.
Nas áreas mais atingidas, as temperaturas estarão de 5ºC a 7ºC acima das médias para o mês. Todas as capitais do Sudeste podem atingir o recorde de calor para 2025 ao longo desta semana. A máxima prevista para São Paulo é de 32ºC e, para o Rio, de 37ºC.
Fonte: Estadão