Parlamentar nega invasão e diz que apenas abriu a porta para exercer seu papel de fiscal do município
Em Felício dos Santos, município de cerca de 5 mil habitantes na região Central de Minas Gerais, um vereador entrou na “Sala Vermelha” da Unidade Básica de Saúde (UBS) na segunda-feira (3), enquanto um paciente em estado grave recebia atendimento. O paciente morreu após a entrada do parlamentar, que alegou estar fiscalizando os médicos após reclamações sobre a demora no atendimento. Tanto o vereador quanto a prefeitura se manifestaram sobre o caso, que mobilizou a cidade e gerou milhares de reações nas redes sociais.
O vereador é Wladimir Canuto, do Avante, que ocupa uma cadeira na Câmara Municipal desde 2017. A prefeitura publicou uma nota (confira na íntegra abaixo) na terça-feira (4 de fevereiro) repudiando as atitudes do parlamentar na UBS. Para a administração municipal, Canuto, de maneira “vil”, “ardilosa”, “abrupta” e “injustificada”, invadiu a Sala Vermelha da unidade, “propagando agressões verbais contra servidores públicos e agredindo fisicamente uma servidora pública no exercício de sua função”.
Em vídeo publicado em sua conta no Instagram, o vereador negou qualquer agressão física, mas confirmou que agrediu servidores verbalmente: “Não tem ninguém que prove que eu agredi alguém fisicamente lá. Verbalmente, sim. Eu falei muita coisa que eles precisavam ouvir”, afirmou na gravação.
O vereador se justifica afirmando que foi à UBS na segunda-feira (3), por volta das 16h30, a pedido de um cidadão que o convidou para verificar a demora no atendimento naquela tarde. “Quando eu cheguei lá, eu me deparei com pessoas que estavam lá desde às 14h, aguardando atendimento e nada de atendimento. Dentre essas pessoas, tinha uma senhora que estava chorando de dor na coluna, desde às 14h, e não conseguia um atendimento, não conseguia nada”, relatou.
Ao questionar a recepcionista, o vereador disse ter recebido a resposta de que os médicos estavam ocupados com emergências. “Eu falei: ‘Todos os dois com emergência? E o povo que está sentindo dor aqui fora vai continuar sentindo dor aqui fora?’”.
Segundo seu relato, após o questionamento, ele decidiu seguir a profissional para dentro da unidade. A funcionária disse que ele não poderia seguir adiante, ao que ele respondeu: “Eu sou fiscal do município”. “O salário que todos os funcionários da prefeitura recebem, eu fiscalizo. Eu tenho que ver se eles estão trabalhando de acordo e são merecedores do salário que recebem”, argumentou Wladimir no vídeo.
Em seguida, conforme o vereador, ele abriu uma das salas. “Sabe a cena que eu me deparei? O médico sentado na cadeira dele, com o celular na mão, mexendo o celular”, relatou.
Sala Vermelha
Na sequência, o vereador disse que abriu a porta de outra sala, mesmo sob a advertência da funcionária: "Eu tenho que entrar, eu tenho que ver o que que tá acontecendo". Eu simplesmente abri a porta, eu não entrei. Aí eu vi que tinha muita gente lá dentro. Eu só perguntei: ‘Tem médico aqui nessa sala’? E a médica só falou: "Sim, eu sou a médica’. ‘Obrigado’, fechei a porta e saí", narrou.
Na nota, a prefeitura diz que “a invasão abrupta e injustificada à ‘Sala Vermelha’, em momento delicado de atendimento a paciente sob o risco de morte, transcende o exercício da vereança e se revela vil e ardiloso, não fazendo jus ao mínimo de humanidade e empatia que se espera de um ser humano, nem se revela como ação fiscalizadora de vereador em exercício de sua função”.
“A ação desencadeou tumultos diversos na instituição, desestabilização psicológica de toda uma equipe, que mesmo o paciente vindo a óbito, não foi o suficiente para o vereador ter empatia, causando revolta dos familiares e usuários pacientes presentes na UBS”, continua a nota.
A administração informou que tomará “todas as providências cabíveis, sejam elas administrativas e judiciais, para a devida responsabilização dos fatos cometidos" e classificou as atitudes do vereador como “criminosas”.
O vídeo do parlamentar, publicado na terça-feira (4), já acumulava mais de 1,5 mil comentários até o início da tarde desta quarta-feira (5). Confira a íntegra abaixo.
Nota de Repúdio da Prefeitura Municipal de Felício dos Santos
"A Prefeitura Municipal de Felício dos Santos, através de seu Prefeito Municipal, Weniton William França, por meio desta nota oficial, vem a público REPUDIAR as atitudes e ações ocorridas na data de ontem,03/02/2025, na Unidade Básica de Saúde, promovidas pelo vereador Wladimir Canuto, que de maneira vil e ardilosa, invadiu a Sala Vermelha de maneiraabrupta e injustificada, propagando agressões verbais contra servidores públicos e agredindo fisicamente uma servidora pública no exercído de sua função.A invasão abrupta e injustificada a “Sala Vermelha” em momento delicado de atendimento a paciente sob o risco de morte, transcende o exercício da vereança e se revela vil e ardiloso, não fazendo jus ao mínimo de humanidade e empatia que se espera de um ser humano, nem se revela como ação fiscalizadora de vereador em exercício de sua função.A ação desencadeou tumultos diversos na instituição, desestabilização psicológica de toda uma equipe, que mesmo o paciente vindo a óbito, não foi o suficiente para o Vereador ter empatia, causando revolta dos familiares e usuários pacientes presentes na UBS.Informa que o Poder Executivo tomará todas as providências cabíveis, sejam elas administrativas e judiciais, para a devida responsabilização dos fatos cometidos e esperamos que a Égregia Casa de Leis dessa municipalidade tome as devidas providências contra as atitudes levianas e criminosas do Vereador Wladimir e que institua Comissão para apuração e penalidade dos fatos por ele cometidos, em resposta ao sofrimento psicológico e físico de toda uma equipe que trabalha incansavelmente por toda uma população e de uma família que perdeu seu ente querido.A Administração 2025/2028 reforça seu compromisso com a verdade, com a legalidade e acima de tudo com o respeito a todos os munícipes, em especial aos servidores públicos ao repudiar com veemência as atitudes criminosas pelo Vereador cometidas".Weniton William FrançaPrefeito de Felício dos Santos
Fonte: O Tempo