Entenda o que levou ao encarecimento do produto no exterior e como isso afeta o preço do ovo no Brasil
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A galinha dos ovos de ouro existe? Para muitos consumidores, é o que parece. Desde 2024, os preços quase dobraram nos Estados Unidos, o que deu ao produto um status que só se costuma ver no comércio de bens de luxo.
Restaurantes passaram a cobrar taxas extras por unidade que os clientes consomem, supermercados registram o esvaziamento de prateleiras e, em um caso inusitado, que ocorreu no início de fevereiro, criminosos roubaram uma carga de 100.000 ovos no estado da Pensilvânia. As cotações dispararam também no Brasil. Em janeiro, o preço do produto no varejo chegou a subir até 40% em algumas regiões do país, segundo a Associação Brasileira de Supermercados (Abras).
Nos EUA, o que explica esse fenômeno é, principalmente, a multiplicação de casos de gripe aviária. O país registrou surtos da doença nos últimos anos, mas o que diferencia a crise atual dos episódios anteriores é a velocidade e a escala de disseminação. Desde novembro, o vírus H5N1, o causador da gripe aviária, espalhou-se rapidamente pelos EUA, e a doença afetou não só galinhas poedeiras, mas também o gado leiteiro e até humanos. Isso reduziu sensivelmente o plantel de aves.
Segundo o Departamento de Agricultura americano (USDA), quase 15 milhões de galinhas morreram desde o início de janeiro, um número superior a todas as perdas do ano de 2023. Quando se detecta a doença em uma granja, a medida de controle prevê o sacrifício de todas as aves do local. Como resultado, estima-se que 10% das aves poedeiras tenham sido abatidas.
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— Foto: Edson Lovatto
O que agrava o quadro é que remontar o plantel após os abates é um processo longo e complicado, que vai além da simples reposição das galinhas. Primeiro, a granja que registrou a doença precisa de aval das autoridades sanitárias para retomar as operações. Após a liberação, o próximo passo é buscar pintainhas (filhotes de galinhas com um dia de vida) em fazendas de matrizes para repovoar as granjas. No entanto, essas fazendas também têm sofrido com o surto. “Não existe oferta suficiente, e o negócio de ovos é de ciclo longo”, diz Marcus Menoita, o principal executivo da Raiar, empresa brasileira especializada em ovos orgânicos.
O Brasil nunca registrou casos de gripe aviária em produção comercial. Isso não livrou o país das altas de preços, que têm sido resultado da diminuição da oferta e do aumento da demanda na Quaresma (período que antecede a Páscoa). E o mercado brasileiro pode sentir impactos da crise americana, uma vez que as granjas locais importam genética de aves dos EUA para remontar seus plantéis. “O Brasil pode não receber material, e cria-se um vácuo de produção de repovoamento das granjas brasileiras”, afirma Elsio Figueiredo, pesquisador da Embrapa Suínos e Aves.
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— Foto: Edson Lovatto
Para o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, esta pode ser uma oportunidade para as casas de genética brasileiras ganharem espaço no mercado internacional. De toda forma, o cenário sugere que a crise dos ovos nos EUA não terá uma solução no médio prazo. Em 2025, projeta o USDA, os preços ainda deverão subir 20%.
Fonte: Globo Rural