Valor de comercialização do fruto pelo produtor subiu cerca de 150% em 1 ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
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Grãos de café especial — Foto: Stephanie Rodrigues / g1 |
O preço do café continua alto por causa da queda de produção gerada pelos problemas climáticos. A maioria dos produtores sofreu perdas, mas alguns mais sortudos que conseguiram ter uma boa safra estão lucrando com o seu encarecimento.
Na venda realizada pelo produtor, o café arábica, o mais plantado do país, encareceu 150% em 1 ano, segundo dados do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Os cafeicultores Manasses Sampaio Dias, de Divinolândia (SP), e Thiago Carvalho, de Lavras (MG) estão entre os produtores que conseguiram aproveitar esse preço.
O lucro de Manassés com as vendas aumentou em 30% este ano, enquanto o de Thiago alcançou até 150%.
Com mais dinheiro no bolso, os produtores estão de olho no futuro e investindo na lavoura, principalmente em métodos para se proteger de novas secas.
Thiago planeja expandir sua área irrigada para 100% de seus 360 hectares. Já Manasses instalou barraginhas ao longo de sua lavoura de 12 hectares. A estrutura é uma bacia escavada no solo para armazenar água da chuva.
“Por enquanto não está dando para trocar de carro, essas coisas. Ainda não estou pensando nisso”, disse Manasses.
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Thiago Carvalho, cafeicultor — Foto: Arquivo pessoal |
Pagamento de dívidas e investimento
Manasses, de 49 anos, trabalha com a agricultura familiar no plantio do café arábica e comercializa parte da sua produção para exportação, outra para a torrefação do pó tradicional e para uma marca própria de café especial.
Na última safra, ele conseguiu 320 sacas do fruto, equivalente a mais de 19 mil kg.
Mas isso não significa que tudo foi vendido no valor atual do café, de cerca de R$ 2.500 a saca. Isso porque a venda é feita no mercado de futuros, o que significa que ela é realizada de forma antecipada, com o preço daquele momento.
O produtor já conseguiu ampliar o seu sistema de barraginhas, com um gasto de R$ 10 mil.
Ele também aumentou a secagem do grão por meio de terreiro suspenso. Se trata de uma estrutura que permite a passagem de ar e luz solar, e evita o contato do fruto com o chão. Sua implementação custa cerca de R$ 15 mil reais.
Usando essa técnica, a qualidade do café aumenta, principalmente para o especial.
Além das melhorias já implementadas, ele deseja construir uma microtorrefação, para ampliar a produção da sua marca própria da bebida.
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Manassés Sampaio Dias, cafeicultor — Foto: Arquivo pessoal |
Esse é o único investimento que ele ainda não conseguiu efetivar, tendo um custo estimado entre R$ 80 mil e R$ 100 mil. A principal razão para este preço é o custo dos equipamentos, que são mais caros.
A situação de Thiago, de 43 anos, não é muito diferente, apesar da produção e do lucro maior. O produtor de médio porte trabalha com exportação e café especial. Sua lavoura gerou em torno de 30 sacas por hectare de café arábica.
Ele explica que apenas cerca de 30% da sua safra pôde ser comercializada no pico do preço, também por já ter vendido parte antes da elevação dele.
A primeira coisa que o produtor precisou fazer com o lucro foi pagar as dívidas com financiamentos rurais.
“O padrão de vida até que não muda muito, mas acaba que a gente que faz mais investimentos”, afirma o cafeicultor.
A meta dele é tornar a sua produção 100% irrigada, para se proteger de secas no futuro. Ele estima que gaste até R$ 20 mil por hectare para implementar o sistema.
“Mas não é sempre assim com lucro. A gente vem desde 2020 sem uma safra boa. Um ano foi frio, outro ano foi seca, o outro ano foi temperatura alta", explica.
O segredo da boa colheita
Nem todos os produtores tiveram a sorte de Thiago e Manasses. Muitos produtores não tiveram uma boa safra devido ao calor e as altas temperaturas.
Além disso, o custo de produção também subiu, como o maior gasto com logística, gerado pelas guerras no Oriente Médio.
Mas alguns fatores favoreceram a produção dos dois agricultores.
No caso de Manasse, a cidade de Divinolândia, no interior de São Paulo, é caracterizada pela altitude de mais de mil metros acima do nível do mar. Por isso, o clima é mais ameno do que em outras áreas produtoras, beneficiando os cafeicultores por lá.
Além disso, ele utiliza a agricultura regenerativa, em que os produtores podem aplicar diferentes métodos para recuperar a sustentabilidade da lavoura, sendo que uma delas é o plantio de árvores.
Parte do cafezal do produtor é sombreada com bananeira e abacateiro, o que ajuda a diminuir a temperatura nas plantas, bem como reter a umidade do solo.
“Curiosamente esses anos de mais escassez de chuva e de mais calor foram os anos em que a gente teve maior produtividade”, afirma.
A técnica também protege o plantio contra geadas e ventos. Ela ajudou o produtor a enfrentar a geada de 2021, que danificou cafezais no Sudeste e Sul do país.
"Nas áreas que eu tinha mais bananeira, eu tive mais produtividade e o granizo estragou pouco”, relata. Para ele, o custo de manejo das árvores vale a pena pela proteção da sua lavoura.
Já para Thiago, o que o ajudou a manter uma boa safra foi a área irrigada. Contando com a lavoura de sequeiro, onde não tem irrigação, ele estima que teve uma perda de de em torno de 30% dos grãos.
Fonte: G1