1° de abril: 8 mitos de saúde passados de geração em geração


O Dia da Mentira é uma ótima oportunidade para esclarecer certos conselhos que não têm respaldo científico

Muitos conselhos sobre saúde são transmitidos ao longo das gerações, e as pessoas normalmente repassam as orientações sem nem saber explicá-las direito. Quem nunca ouviu, por exemplo, que sair no frio com o cabelo molhado pode causar uma gripe ou um resfriado? Ou que não deve comer um bolo quentinho, recém-saído do forno, para não sofrer com uma dor de barriga?

Acontece que várias dessas orientações não fazem sentido. A seguir, elencamos 8 crenças que não contam com respaldo científico – e que, portanto, não deveriam ser passadas adiante.


1- Sair com cabelo molhado no frio e andar no piso gelado causam gripe ou resfriado

Essa crença parece muito factível, no entanto, trata-se de um caso de correlação ilusória relativa ao frio. Gripes e resfriados são mais comuns em épocas de temperaturas baixas, mas isso tem a ver com a maior circulação dos vírus respiratórios nesses períodos e também com comportamentos que nos expõem mais a esses patógenos.

“O que favorece gripe ou resfriado é ficar em ambiente fechado e sem circulação do ar”, exemplifica a infectologista Raquel Stucchi, professora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

O infectologista Fernando de Oliveira, coordenador do Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital São Luiz Morumbi, da Rede D’Or, lembra ainda que o frio pode enfraquecer nossa resposta imunológica.

Ou seja, temperaturas mais baixas podem influenciar a ocorrência de gripes e resfriados de forma indireta.

O médico reforça que os vírus causadores desses problemas são transmitidos de pessoa para pessoa por meio de gotículas expelidas ao tossir, espirrar ou falar. Eles também podem entrar em nosso corpo se tocarmos superfícies contaminadas e, depois, levarmos as mãos à boca, ao nariz ou aos olhos.

“Para prevenir gripes e resfriados, é essencial manter a higienização frequente das mãos, evitar o contato com pessoas infectadas, deixar os ambientes bem ventilados e manter as vacinas em dia, especialmente a da gripe”, completa Oliveira.


2- Vacina contra a gripe pode causar gripe

O Ministério da Saúde prevê o início da campanha nacional de vacinação contra o vírus influenza, causador da gripe, no dia 7 de abril. Mas, em algumas cidades, ela já começou. É agora, portanto, que esse mito volta a circular com força (juntamente com o vírus), impulsionado pela falta de conhecimento sobre como o imunizante é produzido.

Conforme explica o Instituto Butantan, que fornece há décadas essa vacina ao Ministério da Saúde, o primeiro passo da produção é desenvolver o vírus em ovos embrionados de galinha. Depois, o micro-organismo passa pelo processo de purificação e, em seguida, é inativado.

“Como ela é feita com o vírus morto, não tem como a pessoa ser vacinada e ficar com gripe por causa do vírus da vacina”, afirma Raquel.

A vacina trivalente do Butantan, por exemplo, protege contra três tipos de vírus da gripe. A composição é alterada anualmente devido à alta taxa de mutação do vírus.

Mas, sim, por alguns motivos, pessoas que foram vacinadas podem ficar gripadas:
  • Em primeiro lugar, nenhuma vacina confere 100% de proteção. “Ela dá uma proteção de 70% em relação aos vírus que estão circulando”, fala Raquel;
  • A pessoa pode ficar gripada por conta de outros vírus que circulam, mas não estavam no imunizante que tomou (em geral, os imunizantes são preparados com os patógenos de maior circulação);
  • A vacina passa a fazer efeito cerca de 15 dias após a aplicação. “Se a pessoa é vacinada já em um momento de grande circulação de vírus, às vezes não dá tempo de o imunizante fazer efeito”, diz Raquel.
De todo modo, caso uma pessoa vacinada seja infectada com o vírus da gripe, espera-se que ela tenha um quadro mais leve e não precise de hospitalização.


3- Consumir manga com leite faz mal

Especula-se que esse papo começou no tempo do Brasil colonial, quando o leite era um alimento caro e reservado aos senhores de engenho. Por outro lado, havia manga em abundância. “Então, os nobres espalharam essa fake news para que o leite não fosse consumido pelos escravos”, conta a nutricionista Lara Natacci, com pós-doutora na Universidade de São Paulo (USP) e diretora clínica da DietNet – Nutrição, Saúde e Bem-estar. “Ou seja, essa afirmação de que comer manga com leite faz mal não tem nenhum fundamento”, avisa.

A história de que consumir manga com leite faz mal não passa de um mito. Foto: denio109/Adobe Stock

Ela pondera, no entanto, que algumas pessoas podem ter intolerância à lactose, o açúcar natural do leite. Nesses casos, há dificuldade para digerir a bebida, o que pode levar a problemas intestinais, como gases, sensação de estufamento e diarreia. Já uma pequena parcela da população pode ter alergia à proteína do leite de vaca. Ela ocorre quando o organismo encara esse nutriente como um agente agressor. Dessa forma, lida com a proteína da mesma forma que combate vírus e bactérias.

Se não houver nenhum impedimento para o consumo de leite – caso da maioria da população –, misturá-lo com a manga é, na verdade, uma ótima ideia. Afinal, ambos são riquíssimos em nutrientes.

Segundo Lara, a fruta se destaca por concentrar betacaroteno, um precursor de vitamina A no organismo. A substância tem ação antioxidante, ou seja, blinda as células contra danos, favorecendo a prevenção de doenças. Além disso, protege a visão e auxilia o sistema digestivo. “A manga também oferece fibras”, conta Lara. Essas substâncias ajudam o trânsito intestinal e dão saciedade. “O leite, por sua vez, é uma fonte importante de proteínas e de cálcio”, diz a nutricionista. Os nutrientes são fundamentais para a formação de músculos e ossos, respectivamente.

Para fazer uma vitamina, não tem segredo: basta bater o leite com a manga no liquidificador. “Se quiser engrossar, pode usar algum outro ingrediente, como aveia”, sugere Lara. A nutricionista diz que outra boa pedida é colocar a manga no freezer por um tempo e, depois, misturar com leite em pó. “Fica um sorvete bem cremoso”, comenta.


4- Em caso de queimadura, basta passar pasta de dente

Nada disso. Mariele Bevilaqua, dermatologista no Hospital Moinhos de Vento, explica que a primeira coisa a fazer em caso de queimadura é resfriar a área afetada, mas sem aplicar gelo diretamente para não piorar a lesão.

O ideal, explica Mariele, é colocar a região sob água corrente fria ou usar soro fisiológico gelado. Também é importante remover imediatamente roupas, acessórios e anéis da parte afetada para evitar complicações.

“Se a queimadura for extensa ou atingir áreas sensíveis, como o rosto, genitais, extremidades, olhos ou nariz, é fundamental procurar atendimento médico o mais rápido possível”, orienta. O mesmo vale para as crianças: elas merecem atenção redobrada e devem ser levadas à emergência o quanto antes.


5- Mulher que está amamentando não engravida

Rogério Felizi, ginecologista e coordenador do Centro Especializado em Endometriose do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, já viu esse mito ser desmentido várias vezes em consultório. “Já atendi muitas mulheres que ficam grávidas e dizem ‘ah, estava amamentando, pensei que não pudesse engravidar’”, conta.

“Sabemos que, sim, a amamentação tem um impacto de inibir a ovulação”, diz. Isso porque, devido à sucção, há liberação de prolactina no organismo da mulher – e esse hormônio inibe outros hormônios responsáveis pela ovulação. “Mas a mulher pode ovular mesmo assim”, avisa o médico.

Isso é especialmente verdade quando o bebê usa fórmulas ou dá início à introdução alimentar, porque acaba mamando menos no peito.

Engolir um chiclete ou outro não causa qualquer tipo de obstrução no sistema digestivo. Foto: Africa Studio/Adobe Stock

6- Engolir o chiclete é perigoso

Davi Viana Ramos, gastroenterologista do Centro de Doenças Autoimunes da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, é categórico: “Engolir um chiclete de vez em quando não vai grudar no seu estômago, nem ficar preso no seu intestino”.

Nosso corpo não digere a goma de mascar, porém ela percorre o trato gastrointestinal e deixa o organismo sem problemas. “O chiclete passa pelo esôfago, estômago e intestino e é eliminado juntamente com as fezes após uns três ou quatro dias”, afirma Simone Borges, pediatra responsável pela Emergência Convênios do Hospital Pequeno Príncipe.

Mas há um limite: se você engolir muito chiclete ou uma quantidade muito grande de uma vez, pode causar uma obstrução intestinal. O alerta vale principalmente para crianças, segundo Ramos. “É melhor mastigar normalmente, aproveitar enquanto tem sabor e depois jogar fora, não engolir”, diz.


7- Comer bolo quente faz mal para o estômago

Geralmente, o máximo que pode acontecer é ter uma digestão um pouco mais lenta ou queimar a língua. “Se você tem um estômago saudável e não tem problema nenhum de digestão, não vai fazer mal”, afirma Ramos.

Agora, em caso de gastrite ou refluxo, a fatia quentinha (como os alimentos quentes em geral) pode incomodar um pouco mais, segundo o gastroenterologista.


8- Banho gelado pode melhorar a febre de bebês

Isso é mito, assegura Débora Passos, neonatologista e nutróloga do Hospital e Maternidade Pro Matre Paulista. O banho gelado provoca um grande desconforto no neném e não é indicado para reduzir a temperatura.

O que tem de ser feito é desagasalhar a criança e dar um banho morno. “Se você coloca o corpo que está quente em contato com a água quente, não vai haver liberação de calor para o meio, que é a água. Então, banho gelado não é indicado, mas um banho mais morno do que quente pode ajudar a promover a troca de calor do corpo para a água”, orienta Débora.

Além disso, Simone recomenda aumentar a hidratação da criança. Também podem ser usados antitérmicos com orientação médica.

Fonte: Estadão



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